História De Israel – Teologia 31.240
CAPÍTULO 8
ARRANCA-SE UMA ÁGUIA DE OURO QUE HERODES TINHA CONSAGRADO NO
PORTAL DO TEMPLO. SEVERO CASTIGO QUE ELE IMPÕE. HORRÍVEL
ENFERMIDADE DESSE PRÍNCIPE E ORDENS CRUÉIS QUE ELE DÁ A
SALOMÉ,
SUA IRMÃ, E A SEU MARIDO.
737. Enquanto os
embaixadores de Herodes estavam a caminho de Roma, com as ordens que lhes havia
dado, ele caiu doente, fez seu testamento e nomeou seu sucessor no reino a
Antipas, o mais novo de seus filhos, porque Antípatro o havia irritado com suas
calúnias contra Arquelau e contra Filipe. Legou mil talentos a Augusto,
quinhentos talentos à imperatriz, sua esposa, aos seus filhos, aos amigos e aos
libertos. Dividiu o resto do seu dinheiro, suas terras e seus rendimentos,
entre os filhos e netos, enriqueceu Salomé, sua irmã, como agradecimento pela
amizade que ela lhe tinha constantemente demonstrado. Como não tinha esperança
de salvar-se daquela doença, pois já tinha perto de setenta anos, ficou tão
triste e tão irritado, que não podia tolerar nem a si mesmo. A opinião que ele
tinha de que seus súditos o desprezavam e se regozijavam com sua desgraça era a
causa principal disso e uma sedição suscitada por pessoas muito consideradas
pelo povo, confirmou-lhe ainda mais essa suposição. O que aconteceu deste modo:
738. Judas, filho de Sarifeu e Matias, filha de Margalote,
eram assaz queridos do povo, porque, além de serem os mais eloqüentes dos judeus
e os mais sábios na interpretação das leis, eles educavam a juventude e tudo
faziam para encaminhá-la à virtude. Quando esses dois homens souberam que a
doença do rei era incurável, exortaram a estes moços que os reverenciavam como
a.seus mestres, que destruíssem as obras que ele tinha feito, como desprezo dos
costumes de seus antepassados; disseram-lhes que nada lhes poderia ser mais
glorioso, do que se declararem defensores da religião e que tantas desgraças,
que afligiam a família de Herodes eram sem dúvida causadas por ter ele ousado
burlar as leis, que deviam ser invioláveis e calcar aos pés as antigas
determinações, para estabelecer novas obras. Esses doutores, assim falando,
nada diziam que não tivessem deveras no coração. Entre essas obras profanas de
Herodes ele tinha feito colocar e consagrar sobre o portal do Templo, uma águia
de ouro, de tamanho extraordinário e de muito valor, embora as nossas leis
proíbam expressamente fazer figuras de animais. Assim, esses dois homens,
zelosos da observância da disciplina de nossos antepassados, excitaram seus
discípulos a arrancar aquela águia; disseram-lhe que embora a empresa fosse
perigosa, nela não deviam empregar menos entusiasmo, pois uma morte honrosa
deve ser preferível à vida, embora suave e tranqüila, quando se trata de manter
as leis do país e de conseguir uma reputação imortal. Os covar-des morrem, bem
como os generosos, e assim a morte, sendo inevitável para todos os homens, os
que terminam sua vida com grandes feitos, tem a consolação de deixar à
posteridade uma glória imperecível.
Estas palavras animaram de tal modo os moços que a notícia
se espalhou logo; ao mesmo tempo dizia-se que o rei tinha morrido e eles então,
em pleno dia, subiram ao lugar onde estava a águia, arrancaram-na, atiraram-na
por terra e a fizeram em pedaços a golpes de machado, diante de grande multidão
de povo, que estava reunido no Templo. O que comandava as tropas do rei, apenas
soube do que se passava, temendo aquilo fosse o princípio de uma conspiração,
correu para lá, com um grande número de soldados e encontrando apenas uma
multidão confusa que se tinha reunido, dissipou-a sem dificuldade. Mais ou
menos uns quarenta daqueles moços foram os únicos que ousaram resistir. Ele os
prendeu e os enviou ao rei, com judas e Matias, que julgaram ser-lhes-ia
vergonhoso fugir. Herodes perguntou-lhes quem os havia feito tão ousados,
arrancando do lugar um objeto que ele havia feito consagrar. Responderam-lhe:
"Há muito havíamos tomado essa resolução e não te-ríamos podido, sem faltar
à coragem, não tê-la executado. Vingamos o ultraje feito a Deus e mantivemos a
honra da lei de que somos discípulos. Achais estranho que tendo-a recebido das
mãos de Moisés a quem Deus mesmo a deus, nós a tenhamos preferido às vossas
ordens? Julgais que tememos, nos façais sofrer a mesma morte, que em vez de ser
um castigo de um crime, será a recompensa da nossa virtude e de nossa
piedade?" Eles pronunciaram estas palavras com tanta firmeza, que não se
podia duvidar de que sua coragem correspondia às suas palavras e de que eles
não teriam menor valor em sofrer, do que havia tido coragem em agir. Herodes
mandou-os acorrentados a Jerico, fez reunir os mais ilustres dos judeus e foi
levado para lá em liteira por causa de sua debilidade. Falou-lhes das dificuldades
suportadas pelo bem público, disse que ele tinha para a glória de Deus,
reconstruído o Templo, com despesas, o que todos os reis asmoneus juntamente,
não tinham podido fazer durante cento e vinte e cinco anos, em que haviam
reinado e tinha adornado com ricos presentes, que ali havia consagrado; que ele
tinha esperado que lhe agradecessem, mesmo depois de sua morte e que prestassem
honrar à sua memória. Mas, por um horrível atentado, em ver da gratidão que ele
devia esperar, não se havia receado, estando ainda vivo, fazer-lhe tão grande
ultraje, como em pleno dia, à vista de todo o povo, arrancar uma coisa que ele
tinha consagrado a Deus, o qual com aquele ato tinha sido ainda mais ofendido
do que ele.
Os maiorais da assembléia, ouvindo o rei falar desse modo e
temendo que no furor de que estava ele possuído, não viesse a descarregar sobre
eles a sua cólera, disseram que em nada haviam contribuído para o fato que
sucedera, e que julgavam que aquela ação devia ser castigada. Estas palavras
acalmaram-no e ele não investiu mais contra os outros; contentou-se de tirar o
sumo sacerdócio de Matias, que ele pensava tinha tomado parte naquela
depredação e a deu a Joazar, seu cunhado. Durante o tempo em que Matias exercia
o sumo sacerdócio, sonhava certa noite, na qual se devia celebrar um jejum, que
estivera na companhia de sua esposa e que assim não estava em condições de
atender ao serviço divino; José, filho de Eli, que era seu parente foi
encarregado de oficiar naquele dia, em seu lugar. Herodes, assim, depois de
tê-lo privado do cargo de sumo sacerdote, mandou queimar vivo este outro
Matias, autor da sedição, e todos os que tinham sido aprisionados com ele e
naquela mesma noite sobreveio um eclipse da lua. 739. Deus queria que Herodes
sofresse o castigo de sua impiedade; sua doença agravava-se cada vez mais. Uma
febre lenta, que não transparecia exteriormente, queimava-o e o devorava por
dentro; ele tinha uma fome tão violenta, que nada era capaz de saciá-lo; seus
intestinos estavam cheios de úlceras; violentas eólicas faziam-no sofrer dores
horríveis, seus pés estavam inchados e lívidos, suas virilhas também, as partes
do corpo que se escondem com o maior cuidado, estavam tão corrompidas que já
eram devoradas por vermes; seus nervos estavam frouxos; ele respirava com
dificuldade e seu hálito era tão mau, que ninguém queria estar perto dele.
Todos os que consideravam com espírito de piedade o estado em que se achava
esse infeliz príncipe, estavam de acordo em admitir que tudo aquilo era um
castigo visível de Deus, para puni-lo por sua crueldade. Mas embora ninguém
acreditasse que ele poderia, ainda, escapar daquela doença, ele não deixava de
esperá-lo. Mandou vir médicos de todos os países e, a conselho deles, foi para
além do Jordão, às águas cálidas de Caliroé, que se despejam num lago cheio de
betume e não somente a medicinais, mas também agradáveis para se beber.
Meteram-no numa tina cheia de óleo e ele sentiu-se tão mal, que se pensou que
ele ia morrer. Os gritos e as lágrimas de seus domésticos, fizeram-no voltar a
si e então viram que seu mal era incurável. Ele mandou que se distribuísse a
todos os seus soldados, cinqüenta draemas por cabeça, deu grandes presentes aos
seus chefes e aos seus amigos e se fez reconduzir a Jerico onde sua crueldade
aumentou ainda, de tal modo, que o fez tomar as mais horríveis deliberações,
como jamais o espírito humano pôde conceber. Ordenou por um edito a todos os
judeus mais ilustres, que fossem a Jerico, sob pena de morte para os que
faltassem e, quando todos chegaram, ele os fez encerrar no hipódromo, sem
indagar se eles eram culpados ou inocentes. Mandou depois vir Salomé, sua irmã,
e Alexas, marido dela, e disse-lhes que ele sofria tantas dores que via bem que
o fim de sua vida estava próximo e que ele não se podia queixar, pois era um
tributo que uma lei comum a todos os homens, o obrigava a pagar à natureza. Mas
que ele não podia tolerar ser privado da honra que é devida a todos os reis,
por um luto público. Que ele sabia, entretanto, que o ódio que os judeus lhe
tinham era grande, que eles com sua morte teriam se rejubilado, pois mesmo
durante sua vida eles não tinham temido revoltar-se contra ele e ofendê-lo. Que
ele esperava de duas pessoas muito próximas do seu afeto e de seu dever, que o
consolassem em tão sensível desprazer e poderiam fazê-lo, cumprindo o que lhes
ia dizer, tornando assim seus funerais mais magníficos e mais agradáveis às
suas cinzas que o de qualquer outro rei, porque não haveria uma só pessoa em
todo o reino, que não derramasse lágrimas de verdade; que para executar essa
incumbência, logo que ele tivesse exalado o último suspiro, fizessem rodear o
hipódromo de soldados, sem lhes falar de sua morte e ordenassem aos mesmos de
sua parte, que matassem a flechadas todos os que lá estavam encerrados. Se eles
executassem essa ordem, ele lhes deveria um duplo favor: um, por ter satisfeito
ao seu pedido e o outro, por ter tornado o luto de suas exéquias mais célebre
do que qualquer outro. Este cruel soberano acom-panhava as palavras com
lágrimas; rogou-lhes pelo afeto que lhe tinham e por tudo o que tinham de mais
santo, que não permitissem que se deixasse de prestar aquelas últimas honras à
sua memória e eles prometeram-lhe executar pontualmente suas ordens.
Se alguém quisesse desculpar a Herodes as crueldades praticadas
em pessoas, que lhe eram parentes, pela razão de que se tratava de garantir a
sua vida, esta última ação, o obrigaria a confessar, que jamais se viu tão
espantosa desumani-dade em querer que, estando ele para deixar a vida, todas as
famílias e mesmo amigos ilustres, sofressem também um luto, por sua ordem, a
fim de que todo o reino padecesse ao mesmo tempo absoluta tristeza, pela morte
de alguém, sem perdoar nem mesmo aos que nunca o haviam ofendido e de que
jamais tivera motivo de queixa, quando, por pouca bondade que se tenha,
costuma-se perdoar aos mesmos inimigos, reduzidos a esse estado.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine
o nosso entendimento
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