História De Israel – Teologia 31.226
CAPÍTULO 11
O REI HERODES MANDA ABRIR O SEPULCRO DE DAVI, PARA TIRAR
DINHEIRO,
E DEUS O CASTIGA. DIVISÕES E PERTURBAÇÕES NA FAMÍLIA.
CRUELDADE
DESSE SOBERANO CAUSADA POR SUAS DESCONFIANÇAS E PELA MALÍCIA
DE
ANTÍPATRO. MANDA METER ALEXANDRE, SEU FILHO, NA PRISÃO.
699. As excessivas despesas feitas por Herodes dentro e fora
do reino haviam esgotado as suas finanças. Ele sabia que Hircano, seu
predecessor, retirara três mil talentos de prata do sepulcro de Davi e
imaginava que outros lá ainda restassem, em número suficiente para cobrir todas
as suas necessidades. Havia muito tempo ele desejava recorrer a esse meio, e
por fim o fez. Começou por usar de todas as precauções possíveis, para impedir
que o povo descobrisse o seu intento. Mandou abrir o sepulcro à noite e lá
entrou acompanhado somente pelos seus amigos mais fiéis. Não encontrou dinheiro
em moedas, como Hircano, porém achou muitos vasos de ouro e outras preciosas
dádivas que ali haviam sido colocadas. Mandou levar tudo, no entanto isso lhe
fez desejar mais. Mandou então rebuscar até mesmo no ataúde onde estava o corpo
de Davi e o de Salomão. Conta-se, porém, que de lá saiu uma chama, que matou
dois de seus guardas. Esse fato prodigioso assustou-o e, para expiar tal
sacrilégio, ele depois mandou construir à entrada do sepulcro um soberbo
monumento de mármore branco.
Nicolau, que escreveu a história dessa época, faz menção
desse fato, mas não diz que Herodes entrou no sepulcro, porque julgava
prejudicial à imagem do rei. Em seu livro, ele tem a mesma atitude com relação
a muitas outras coisas referentes a esse soberano porque, tendo escrito essa
história enquanto Herodes ainda vivia, o desejo de agradá-lo levou-o a falar
somente o que lhe podia redundar em glória. Assim, ele registra, com grandes
elogios, os seus belos feitos, mas suprime, tanto quanto possível, os seus
crimes mais notórios, ou pelo menos procura disfarçá-los. Esforça-se mesmo por
desculpar, com pretextos especiosos, a crueldade para com Mariana e os filhos
desta. Ele assim procede em toda a sua obra, dirigindo pomposos encômios às
suas justas ações, mas principalmente fazendo apologia de suas injustiças.
Quanto a mim, que tenho a honra de descender dos asmoneus e ter o meu lugar
entre os sacerdotes e que não ousaria pronunciar qualquer falsidade contra
eles, narro as coisas sinceramente e não creio ofender aos reis descendentes de
Herodes ao preferir a verdade, a qual em certos momentos pode lhes causar
desgosto.
700. Desde o dia em que Herodes violou o respeito devido à
santidade dos sepulcros, a agitação em sua família aumentou cada vez mais,
fosse por uma vingança do céu, o que teria tornado essa chaga ainda mais
dolorosa, fosse por ocorrer num tempo em que se podia vincular a causa a esse
sacrilégio. Uma guerra civil não agitaria mais uma nação que as paixões dos
diversos partidos da corte desse príncipe. Parecia que cada qual desejava
superar os demais em calúnias. E era Antípatro quem sobrepujava a todos em
artifícios para destruir os irmãos. Fazia com que fossem acusados de falsos
crimes e ocultava a sua perigosa malícia tomando-lhes muitas vezes a defesa, a
fim de poder, com esse amor aparente, oprimi-los sem muita dificuldade e
enganar o rei seu pai, que pensava ser ele o único a se interessar pela sua
conservação. Assim, Herodes ordenou a Ptolomeu, seu principal ministro, que
nada fizesse no governo sem antes comunicar a Antipatro. Dava também à mãe dele
participação em todas as coisas, e Antipatro servia-se dessa influência para
insuflar o ódio na mente de todos os que julgava importante tornar inimigos do
rei.
Alexandre e Aristóbulo, por sua vez, cujo coração
correspondia à grandeza de sua origem, não podiam tolerar um tratamento tão
indigno da parte daqueles que lhes eram inferiores, e as suas mulheres eram do
mesmo parecer. Glafira odiava Salomé mortalmente, tanto por causa do afeto que
tinha por Alexandre, seu marido, quanto por não tolerar que ela fizesse prestar
à filha, que desposara Aristóbulo, as mesmas honras que a ela mesma.
Feroras contribuía para essa divisão, levando Herodes a
desconfiar dele e a odiá-lo, porque recusara desposar a filha deste por causa
de uma serviçal a quem amava perdidamente. Esse injurioso desprezo feriu
Herodes profundamente, porque nada lhe podia ser mais doloroso que ver o irmão*
a quem agraciara com tantos benefícios e que era quase associado ao governo
pela autoridade que lhe concedera, corresponder tão pouco ao seu afeto. E,
vendo que não conseguiria afastá-lo daquela loucura, deu essa princesa em
casamento ao filho de Fazael, seu irmão mais velho. Mais tarde, quando julgou
que Feroras, tendo já realizado os seus desejos, se havia tornado mais
razoável, fez-lhe graves censuras pela maneira ofensiva como procedera para com
ele e convidou-o ao mesmo tempo a desposar Cipro, sua outra filha.
Ptolomeu repreendeu Feroras, dizendo que este ofendera
gravemente o irmão ao se deixar conduzir daquele modo por uma tão vergonhosa
paixão, podendo por isso ser privado da boa vontade do rei para com ele, que
tivera a generosidade de perdoá-lo de sua primeira falta, e provocar o seu ódio
e a própria desgraça, quando devia conservar aquela amizade. Feroras,
persuadido por essas razões, despediu a mulher, de quem tivera um filho, e
prometeu ao rei, com juramento, não vê-la mais e desposar a princesa dentro de
um mês. Chegado esse tempo, no entanto, ele esqueceu todas as promessas,
retomou aquela mulher e amou-a ainda mais ardentemente que antes.
Herodes, ofendido com esse proceder, não pôde reter por mais
tempo a sua cólera, e com freqüência escapavam-lhe palavras que traduziam toda
a sua ira. Alguns, vendo-o daquela maneira indisposto contra Feroras,
incitavam-no ainda mais por meio de calúnias. Não se passava um dia, ou mesmo
uma hora, em que ele não recebesse novos motivos de desgosto por aquela cisão e
pelas disputas contínuas entre os parentes e as pessoas que lhe eram muito
queridas.
O ódio de Salomé pelos filhos de Mariana era tão grande que
ela não podia tolerar que a própria filha, que havia desposado Aristóbulo,
vivesse em paz com o marido. Exigia dela que lhe referisse as coisas mais
secretas que o casal tinha entre si e, se acontecia entre eles alguma pequena
rusga, como é natural, em vez de lhe acalmar o espírito, irritava-a ainda mais
com as suspeitas que lhe despertava. Obrigava-a também a revelar o que se
passava entre os dois irmãos.
A jovem princesa contou-lhe que, quando eles estavam
sozinhos, faziam menção à rainha Mariana e à aversão que tinham pelo pai,
dizendo que, se um dia chegassem ao trono, não dariam outro emprego aos filhos
que Herodes tivera das outras mulheres senão o de tabeliães nas aldeias, pois,
com a educação que haviam recebido, era o cargo que estavam aptos a exercer. E,
se eles vissem as mulheres de Herodes se adornando com os trajes da rainha sua
mãe, dar-lhes-iam por vestes apenas cilícios e as encerrariam em lugares onde
jamais veriam a luz do sol. Salomé relatava todas essas coisas a Herodes. Ele
as ouvia com pesar e procurava remediá-las, porque preferia corrigir os filhos
a castigá-los. Assim, embora ele se tornasse cada dia mais triste e propenso a
crer no que lhe contavam, contentou-se em repreender severamente os filhos e
ficou satisfeito com as suas justificativas.
Porém esse mal, que parecia curado, bem depressa se
manifestou muito maior. Feroras disse a Alexandre ter sabido de Salomé que o
rei concebia pela princesa Glafira — esposa de Alexandre — uma paixão tão forte
que era impossível controlar. Essas palavras despertaram tal ciúme no príncipe
que ele passou a enxergar com maldade qualquer demonstração de afeto da parte
de Herodes pela nora. O seu penar foi tão intenso que, não o podendo mais
suportar, foi falar com o rei seu pai. Narrou-lhe em lágrimas o que Feroras lhe
dissera. Jamais Herodes tivera surpresa maior. Ele ficou tão chocado com aquela
abominável acusação que começou a lamentar profundamente a horrível malícia de
seus domésticos, os quais pagavam com a ingratidão os muitos benefícios de que
lhe eram devedores.
Mandou imediatamente chamar Feroras e disse-lhe,
encolerizado: "Sois o pior de todos os homens! É assim que reconheceis
tantos favores que de mim recebestes? Como podem penetrar em vosso espírito e
sair de vossa boca pensamentos e palavras tão injuriosas contra a minha
reputação e tão contrárias à verdade? Bem compreendo o vosso desígnio. Não foi
somente para me ofender que falastes desse modo a meu filho, mas para o induzir
a me envenenar, pois qual filho, mesmo possuindo um gênio pacífico, deixaria de
vingar tamanho ultraje? Ou pensais que há grande diferença entre incentivar tal
ciúme em seu espírito e pôr-lhe a espada na mão, para que me mate? Qual é o
vosso desígnio, fingindo amar um irmão que sempre vos quis bem, quando na
verdade me tendes ódio mortal e me acusais falsamente de praticar uma ação na
qual não se pode sem impiedade nem mesmo pensar? Ide-vos, ingrato, que
renunciastes a todos os sentimentos de humanidade por vosso benfeitor e irmão.
Sejam as recriminações de vossa consciência o vosso carrasco pelo resto de
vossa vida. Quanto a mim, para vos cobrir de confusão, contentar-me-ei em
confundir a vossa malícia com a minha bondade, não vos castigando como
mereceis, mas vos tratando com a mansidão de que vos tornastes indigno".
Feroras, não podendo se desculpar de tamanho crime, de que
se havia tão claramente culpado, lançou a culpa sobre Salomé, dizendo que
aquilo partira dela. Aconteceu que ela estava presente, e, como era tão fingida
quanto má, afirmou altivamente que nada havia de mais falso e exclamou que
parecia que todos haviam conspirado para torná-la odiosa ao rei e levá-la a
perder a vida, e que a sua preocupação pelo bem-estar de Herodes diante dos
perigos que o ameaçavam era motivo para que a odiassem, e Feroras mais que
todos, pois fora ela a causa de que ele despedisse a mulher que mantinha.
Enquanto falava, arrancava os cabelos e batia no peito, mas ninguém deu crédito
ao que ela dizia.
Feroras, no entanto, ficou aflitíssimo, porque não podia
negar ter dito aquelas palavras a Alexandre nem provar que as ouvira de Salomé.
E ambos discutiram por muito tempo: ele para acusá-la e ela para se justificar.
Herodes, cansado daquela discussão, mandou-os embora, louvando o filho pela sua
moderação e por haver lhe manifestado o seu penar. Como já era tarde, foi
pôr-se à mesa. Ninguém deu razão a Salomé, e não se duvidava de que fora ela
quem inventara aquela calúnia. As mulheres do rei, que a odiavam por causa de
seu mau humor e de sua inconstância nos afetos, difamavam-na continuamente
perante Herodes.
701. Obodas reinava então na Arábia. Era um príncipe
preguiçoso, que só amava a ociosidade. Sileu, que era hábil, bem apessoado e em
plena mocidade, governava sob a sua autoridade. Veio ele falar com o rei
Herodes sobre alguns negócios e, um dia, quando estava com o rei à mesa,
Salomé, que também estava presente, caiu-lhe nas suas boas graças. Sabendo que
ela era viúva, propôs-lhe casamento. Como Sileu também lhe agradasse e ela já
não estivesse bem afinada com o espírito do rei seu irmão, não rejeitou a
proposta. As mulheres do rei logo o foram informar dessa nova amizade, acrescentando
os seus próprios comentários e críticas. Ele ordenou a Feroras que os
observasse, e este disse-lhe que era fácil de se julgar, pelos olhares e pelos
sinais que ambos trocavam, que estavam de acordo. Então Herodes não duvidou
mais, e Sileu despediu-se.
Dois ou três meses depois, ele veio pedir Salomé em
casamento, declarando que tal união seria muito vantajosa a Herodes, por causa
do comércio de seu reino com a Arábia, pois era ele, Sileu, quem a governava de
fato no presente, e o reino com certeza, no futuro, lhe pertenceria. Herodes
falou com a irmã. Ela deu-lhe voluntariamente o seu consentimento, e ele disse
a Sileu que podia satis-fazer-lhe o pedido, contanto que abraçasse a religião
dos judeus. O árabe respondeu-lhe que não o podia fazer, porque os de sua nação
o apedrejariam. E assim, desfez-se o contrato. Feroras acusou Salomé de ter
pouco cuidado com a sua reputação, e as mulheres do rei diziam abertamente que
ela nada havia recusado àquele estrangeiro.
702. Algum tempo
depois, Herodes deixou-se vencer pela importunação de Salomé e resolveu dar em
casamento ao filho que ela tivera de Costobaro a princesa sua filha que
Feroras, apaixonado pela serva, recusara desposar. Mas Feroras o fez mudar de
idéia, dizendo que aquele moço jamais a amaria, por causa do ressentimento que
conservava pela morte de seu pai. Se ele achasse melhor, que a desse ao seu
filho, que tinha também a honra de ser seu sobrinho e deveria sucedê-lo na
tetrarquia. Herodes aprovou a proposta, deu cem talentos à filha, como dote, e
perdoou Feroras pelas faltas passadas.
703. As perturbações
na família de Herodes não cessaram. Ao contrário, aumentaram com novos fatos,
vergonhosos em seu início e funestos em suas conseqüências. O soberano tinha
três eunucos aos quais muito estimava, porque eram muito belos. Um era o seu
mordomo, o outro, o seu camareiro e o terceiro, o principal criado de quarto. O
rei servia-se deles até mesmo nos negócios mais importantes. Mas lhe contaram
que Alexandre, seu filho, os havia subornado com uma grande quantia de
dinheiro. Herodes interrogou-os, e eles confessaram que era verdade; todavia,
negaram que ele os houvesse induzido a empreender algo contra o rei.
Torturaram-nos uma segunda vez e os trataram com tanta
violência que eles, não podendo mais suportar, disseram que Alexandre ainda
conservava no coração o ódio que sempre tivera pelo rei seu pai e os havia
exortado a abandoná-lo, pois era um homem já inútil para tudo, por causa da
velhice que ele se esforçava tanto para ocultar, fazendo pentear a barba e os
cabelos, e que, se quisessem unir-se a ele, prometia elevá-los aos mais altos
cargos quando viesse a reinar. E isso iria acontecer muito em breve, mesmo que
o seu pai não o quisesse, pois, além de o reino lhe pertencer por direito de
nascimento, estava tudo preparado para que logo o assumisse, e os seus amigos
estavam dispostos a fazer qualquer coisa por amor a ele.
Essas palavras suscitaram terrível cólera a Herodes,
causando-lhe ao mesmo tempo um angustioso temor, pois não podia tolerar que o
filho tivesse ousado falar a seu respeito de modo tão ultrajoso. Ele temia
ainda não poder fugir de imediato ao perigo que o ameaçava. Julgou também que
não era conveniente agir às claras para resolver aquele assunto. Era preferível
empregar para isso, secretamente, pessoas de sua inteira confiança. No entanto,
ele desconfiava de todos e, julgando que a sua segurança dependia dessa
desconfiança, suspeitava de muitos que eram inocentes. Quanto mais íntimo lhe
era alguém, mais ele o julgava capaz de conspirar contra ele. Quanto aos que
não lhe eram próximos, bastava alguém acusá-los para que logo os mandasse
matar.
As coisas chegaram a tal ponto que os seus criados,
convencidos de que só se poderiam salvar arruinando os outros por meio de
calúnias, passaram a acusar os companheiros. Mas eram, por sua vez, acusados
por outros, e assim recebiam também um justo castigo, sofrendo as mesmas penas
que haviam causado aos inocentes e caindo em ciladas semelhantes às que
preparavam para os outros. Herodes logo se arrependia de supliciar pessoas que
não haviam cometido crime algum, mas isso não o impedia de insistir na prática
dessa injustiça. Ele se contentava em impor aos delatores os mesmos suplícios
sofridos pelos que haviam sido falsamente acusados por eles.
Esse deplorável estado de coisas em que se encontrava a
corte do soberano chegou a tal ponto que ele proibiu de comparecer à sua
presença e de entrar no palácio vários dentre os que ele mais amava ou estimava
por merecimento. Andrômaco e Gamelo estavam nesse número. Eram seus amigos de
longa data e lhe haviam prestado grandes serviços com os seus conselhos e
embaixadas nos mais importantes negócios do reino. Haviam cuidado da educação
dos príncipes, e em ninguém tinha ele mais confiança. Mas ele afastou
Andrômaco, porque o príncipe Alexandre era muito achegado a Demétrio, filho
daquele, e a causa da aversão por Gamelo foi o afeto que ele nutria por esse
mesmo príncipe, que fora seu discípulo e o acompanhara na viagem a Roma.
Herodes com certeza os trataria mais rudemente se não lhes conhecesse os
méritos, que eram notórios. Por isso, contentou-se em afastá-los e em lhes
tirar toda a autoridade, a fim de que, não vivendo mais em sua presença,
pudesse agir com inteira liberdade.
Antipatro era a causa principal de todos esses males, pois,
quando viu que o rei se deixava transportar facilmente a tantos temores e
suspeitas, retomou com mais crueldade os seus propósitos anteriores,
sugerindo-lhe, como se lhe prestasse um grande serviço, que mandasse matar
todos os que estavam em condições de lhe resistir. Assim, Herodes, depois do
afastamento de Andrômaco e de outros que lhe poderiam falar com liberdade, fez
torturar os que eram fiéis a Alexandre, para obrigá-los a confessar qualquer
participação em alguma conspiração contra o rei. Eles morriam nos tormentos
afirmando que eram inocentes, mas isso o fazia obstinar-se ainda mais em
torturar os suspeitos. E Antipatro era tão mau, que dizia que eles eram
impedidos de confessar a verdade por causa de sua extrema fidelidade para com Alexandre.
Com isso, um grande número de pessoas foi submetido a tormentos, a fim de se
extrair delas o que o rei desejava saber.
Um deles, sucumbindo ante a violência da dor, afirmou que
ouvira Alexandre dizer diversas vezes, quando lhe louvavam a grandeza e a
beleza do porte e a habilidade em atirar com o arco e em todas as outras
espécies de exercícios, que tais virtudes, recebidas da natureza, eram mais
desgraças que favores, porque causavam inveja ao rei seu pai, pois quando o
acompanhava, era obrigado a se curvar para não parecer mais alto que ele e
quando ia à caça, devia atirar mal, de propósito, porque o rei não podia
tolerar que o louvassem. Quando ouviram o homem falar desse modo, deixaram de o
atormentar, e ele, sentindo-se aliviado, acrescentou que Aristóbulo conspirava
com o irmão para matar o rei quando este fosse à caça e que, se o plano fosse
executado sem empecilhos, eles fugiram e iriam a Roma reivindicar o reino.
Encontraram também cartas desse príncipe ao irmão, nas quais se queixava de Herodes
haver concedido a Antipatro terras que podiam render anualmente duzentos
talentos. Tudo isso fez Herodes crer que já havia o suficiente para um justo
motivo de desconfiança dos filhos.
704. Irritou-se então novamente contra Alexandre e o
encerrou na prisão. Mas ele não estava convencido de todas aquelas acusações
contra os príncipes, pois, ainda que ousassem atentar contra a sua vida, não
havia probabilidade de que lhes tivesse ocorrido a idéia de ir a Roma após
cometerem semelhante crime. Parecia-lhe mais verossímil ser aquilo fruto do
descontentamento dos moços, pois possuíam uma grande ambição e tinham inveja de
Antípatro. Assim, querendo maiores provas, para achá-los culpados e evitar que
o acusassem de haver levianamente mandado prender o filho, mandou que se
torturassem os principais amigos do príncipe e ordenou a morte de outros, ainda
que nada tivessem confessado.
A corte estava tão agitada e cheia de terror, que alguém
anunciou que Alexandre havia preparado veneno em Asquelom e depois escrevera aos
seus amigos em Roma para que comunicassem a Augusto que descobrira um plano
contra ele: o rei seu pai deixara o partido dos romanos para unir-se a
Mitridates, rei dos partos. Herodes prestou fé a essas acusações, e não
faltaram aduladores que, para consolá-lo no seu sofrimento, diziam que era
muito justo tudo o que ele havia feito. Todavia, por mais indagações que ele
fizesse, esse pretenso veneno nunca foi encontrado.
Alexandre, embora amargurado por tantos males, não se deixou
abater. Manifestou mais coragem do que nunca em sua infelicidade: não se
dignava defender-se. Em vez de se justificar, falava de uma maneira que
irritava ainda mais o rei, de um lado cobrindo-o de confusão, pois deixava
transparecer que era facilmente enganado pelas calúnias, e de outro pondo-o em
amargura e o colocando em sérias dificuldades, caso prestasse fé ao que o filho
dizia. Escreveu-lhe quatro cartas nas quais dizia que era inútil torturar
tantas pessoas para saber se conspiravam contra ele, pois isso era coisa certa.
Os seus amigos mais fiéis tomavam parte naquela conspiração, até mesmo Feroras.
A própria Salomé viera, secretamente, à noite, deitar-se em seu leito. Assim,
todos pensavam unicamente em tirá-lo deste mundo para depois viver com
tranqüilidade. Por meio delas, apontava até mesmo a cumplicidade de Ptolomeu e
Sapínio, em quem Herodes depositava toda a confiança.
Parecia que todos estavam dominados pela raiva e que aqueles
que outrora eram os melhores amigos se haviam tornado inimigos mortais. Não se
escutavam as justificativas dos acusados, não se procurava esclarecer a
verdade. O suplício precedia o julgamento, e a prisão de uns, a morte de outros
e o desespero daqueles que não esperavam melhor tratamento enchiam o palácio de
tal temor que não restava sequer um pequeno indício da felicidade passada. O
próprio Herodes, em meio a tão grande perturbação, enfadara-se da vida. O temor
contínuo pela sua vida e o desprazer de não poder confiar em ninguém
mantinham-no em cruel e incessante tormento. Assim, como ele noite e dia não
pensava em outra coisa, imaginava freqüentemente ver o filho vir a ele de
espada em punho para matá-lo, e pouco faltou para que esse terror, que o
agitava continuamente, não o fizesse perder o juízo.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine
o nosso entendimento
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