História De Israel – Teologia 31.48
Livro Quinto
CAPÍTULO 1
JOSUÉ, POR UM MILAGRE, PASSA O JORDÃO COM O EXÉRCITO E, POR
OUTRO
MILAGRE, TOMA JERICO, ONDE SOMENTE RAABE SE SALVA COM OS
SEUS. OS
ISRAELITAS SÃO DERROTADOS PELOS DE AI, POR CAUSA DO PECADO DEACÃ,
E TORNAM-SE SENHORES DESSA CIDADE DEPOIS QUE ELE FOI
CASTIGADO.
ARTIFÍCIOS DOS GIBEONITAS PARA FAZER ALIANÇA COM OS HEBREUS,
QUE OS
AJUDAM CONTRA O REI DE JERUSALÉM E QUATRO OUTROS REIS. JOSUÉ
DERROTA EM SEGUIDA VÁRIOS OUTROS REIS, COLOCA O TABERNÁCULO
EM
SILO, DIVIDE O PAÍS DE CANAÃ ENTRE AS TRIBOS E DESPEDE AS DE
RÚBEN
E GADE E METADE DA DE MANASSES. ESTAS, DEPOIS DE PASSAR O
JORDÃO,
ERGUEM UM ALTAR, O QUE SE PENSOU CAUSAR UMA GRANDE GUERRA.
MORTE DE JOSUÉ E DE ELEAZAR, SUMO SACERDOTE.
180. Josué 1. Vimos, no livro precedente, de que modo Moisés
foi levado do convívio dos homens. Depois de prestados a ele os últimos
serviços e passado o tempo do luto, Josué ordenou a todas as tropas que
estivessem prontas, mandou exploradores a jerico, para observar as disposições
dos habitantes, e marchou com o exército, tendo em mira atravessar o Jordão.
Como o país dos amorreus, que corresponde à sétima parte de Canaã, havia sido
entregue às tribos de Rúben e Gade e à metade da de Manasses, ele fez ver aos
chefes delas o cuidado que Moisés tivera por eles até a morte e exortou-os a
cumprir com alegria o que lhe haviam prometido, porque se haviam obrigado tanto
para reconhecer o afeto que ele lhes demonstrara quanto para utilidade comum.
Encontrou-os tão bem dispostos que eles forneceram cinqüenta mil homens. Partiu
então de Abila e avançou sessenta estádios na direção do Jordão.
Os homens que ele mandara para explorar a terra
informaram-lhe que os cananeus de nada desconfiavam, havendo-os tomado por
estrangeiros levados ao seu país apenas pela curiosidade; que haviam observado
a cidade com toda calma, sem que ninguém os impedisse; que em alguns lugares as
muralhas eram mais fortes ou mais fracas, e as portas, mais fáceis de serem
surpreendidas; que pela tarde eles se haviam recolhido a uma hospedaria, perto
da defesa, onde haviam estado por primeiro; que depois de cear eles se
prepararam para regressar, mas alguém avisara o rei de que alguns homens
mandados pelos hebreus haviam feito reconhecimentos na cidade e estavam na casa
de Raabe com o propósito de fugir dali secretamente.
O soberano enviou imediatamente alguns homens para
prendê-los e entregá-los à justiça, a fim de os obrigarem a confessar, mas
Raabe os escondeu nos montes de linho que fazia secar ao longo do muro e disse
às pessoas mandadas pelo rei que verdadeiramente alguns estrangeiros, que ela
não conhecia, cearam em sua casa, mas haviam partido pouco antes do pôr-do-sol,
e que se temiam que a visita deles tinha algum fim prejudicial à cidade e ao
rei, seria fácil apanhá-los e trazê-los de volta. Aquelas pessoas, enganadas
por essa mulher, em vez de procurá-los em casa tomaram caminhos que, segundo
imaginavam, os estrangeiros teriam seguido, particularmente os que levavam ao
rio. Porém, depois de caminharem muito tempo, voltaram sem saber notícias
deles.
Depois que tudo sossegou, Raabe falou-lhes do perigo ao qual
ela, com toda a sua família, se expusera para salvá-los e contou-lhes que Deus
lhe revelara que eles se tornariam senhores de todo o país de Canaã. Então
obrigou-os a prometer com juramento que depois de tomar Jerico e passar todos
os seus habitantes a fio de espada, segundo a resolução já tomada, eles lhe
salvariam a vida e a de todos os seus, da mesma forma como ela havia salvado a
deles.
Depois de ter-lhe agradecido muito, eles disseram que quando
ela visse a cidade prestes a ser tomada teria apenas de retirar os parentes e
todos os seus bens de casa e estender diante da porta um pano vermelho,
garantindo-lhe que, como recompensa pelo favor que lhe deviam, o general deles
faria publicar proibições expressas quanto a entrar em sua casa ou causar-lhe
algum desprazer. Mas se algum de seus parentes fosse morto em combate, ela não
deveria acusá-los de ter violado o jura-mento. Eles contaram a Josué que a
mulher em seguida os fez descer as muralhas da cidade por meio de uma corda.
Josué narrou esse fato a Eleazar, sumo sacerdote, e ao Senado, e eles aprovaram
e confirmaram a promessa feita a Raabe.
181. Josué 3. Como Jerico situava-se além do Jordão, era preciso,
para atacá-la, que o exército atravessasse o rio, então muito aumentado por
causa das enchentes e da chuva. Josué encontrou-se em grande aflição, porque
não tinha barcos para fazer uma ponte, e, mesmo se isso viesse a ser possível,
os inimigos tê-los-iam impedido de construí-la. E, diante de tão grande
contratempo, Deus prometeu-lhe tornar o rio vadeável. Josué esperou dois dias e
depois atravessou-o, deste modo: os sacerdotes por primeiro, com a arca,
seguidos pelos levitas, que levavam o Tabernáculo e todos os vasos sagrados. Os
que pertenciam ao exército marchavam junto com as respectivas tribos, colocadas
as mulheres e as crianças no meio, a fim de não serem levadas pela correnteza.
Quando os sacerdotes entraram no rio, perceberam que a água
não era mais tão movimentada, tendo baixado de nível, e que o fundo estava
firme. Assim, podiam atravessá-lo a pé. Depois desse primeiro efeito da
promessa de Deus, todos os outros passa sem receio. Os sacerdotes ficaram no
meio do rio até que todos passassem, e mal eles mesmos chegaram ao outro lado
imediatamente o rio tornou-se cheio e impetuoso como antes. O exército avançou
ainda uns cinqüenta estádios e acampou a dez estádios de Jerico.
182. Josué 4 e 5. Josué mandou erguer — com doze pedras que
os príncipes das doze tribos, por sua ordem, apanharam no Jordão — um altar
para servir como monumento ao auxílio de Deus, que, em benefício do povo,
retivera a violência e a impetuosidade do rio. Sobre esse altar ele ofereceu um
sacrifício e nesse lugar celebrou a festa da Páscoa. O exército encontrava-se
em tão grande abundância quanto antes estivera em premente necessidade, pois
além de toda espécie de presas com que se haviam enriquecido fora feita a
colheita dos grãos já maduros, de que os campos estavam cobertos. E o maná, que
os havia nutrido durante quarenta anos, deixou então de cair.
183. Josué, vendo-se
senhor do campo, pois o medo dos cananeus os havia encerrado todos na cidade,
resolveu então atacá-los. Assim, no primeiro dia da festa, os sacerdotes, acompanhados
pelo Senado, marcharam para Jerico no meio dos batalhões, levando a arca sobre
os ombros, ao som de sete trompas, para animar os soldados. Depois de nessa
ordem rodearem a cidade, regressaram ao acampamento e continuaram durante seis
dias a fazer a mesma coisa.
No sétimo dia, Josué reuniu todo o exército e todo o povo e
disse-lhes que antes que o Sol se ocultasse no ocaso Deus lhes entregaria
jerico sem que eles tivessem necessidade de fazer esforço algum para dela se
tornar senhores, porque as muralhas cairiam por si mesmas, para lhes dar
entrada. Ordenou-lhes então que matassem não somente todos os seus habitantes,
mas tudo o que tivesse vida, sem que a compaixão, o desejo do saque ou o
cansaço os impedisse e sem nada reservarem para proveito particular. Deveriam
levar a um mesmo lugar todo ouro e toda prata que encontrassem, para oferecer a
Deus como primícias, e os despojos daquela que era a primeira cidade que Ele
fazia cair nas mãos deles deveriam ser oferecidos em ação de graças, pela assistência
que lhes prestava. Dessa lei geral, deviam excetuar apenas Raabe e seus
parentes, por causa do juramento que a ela fizeram os que ele havia mandado
para reconhecimento.
Depois de ter dado essas ordens, mandou o exército avançar
para a cidade. Rodearam-na por sete vezes, os sacerdotes à frente, com a arca e
ao som das trompas, como nos dias precedentes, para animar os soldados. E ao
sétimo dia as muralhas caíram sozinhas. Fato tão prodigioso espantou de tal
modo os seus habitantes que eles perderam totalmente a coragem, permitindo que
os hebreus entrassem por todos os lados sem encontrar resistência alguma.
Fez-se assim horrível matança, não sendo poupadas nem as mulheres nem as
crianças. Puseram fogo à cidade e reduziram a cinzas todas as casas nos campos.
Somente Raabe e seus parentes, a salvo em casa dela, foram
isentos dessa desolação geral, e ela foi levada a Josué. Ele agradeceu-lhe por
ter salvo aqueles que havia enviado, prometendo recompensá-la como merecia. Em
seguida, deu-lhe terras e tratou-a sempre com muita cordialidade. Destruiu-se
com o ferro em Jerico tudo quanto o fogo havia poupado. Pronunciaram-se
maldições contra os que tentassem reconstruir a cidade e rogou-se a Deus que o
primeiro que lhes lançasse os alicerces perdesse o filho primogênito ao começar
a obra e o mais moço ao terminá-la. Essa maldição teve o seu efeito, como
diremos a seu tempo. Encontrou-se nessa poderosa cidade grande quantidade de
ouro, de prata e de cobre sem que ninguém, sem excetuar um só, ousasse se
apoderar de algo, por causa da proibição que se fizera. Josué mandou entregar
todas as riquezas nas mãos dos sacerdotes, para conservá-las no tesouro.
184. Josué 7. Acã, filho de Carmi, da tribo de Judá, que se
apoderara da cota de armas do rei, toda tecida em ouro, e de uma barra de ouro,
do peso de duzentos sidos, julgou que, tendo-se exposto ao perigo, era injusto
não poder tirar disso nenhuma vantagem, bem como era desnecessário oferecer a
Deus uma coisa de que Ele não tinha necessidade e da qual ele, Acã, se poderia
aproveitar. Por isso enterrou-os na sua tenda, pensando enganar a Deus tal como
havia iludido os homens.
O exército estava então acampado num lugar a que os hebreus
chamam Gilgal, isto é, "liberdade", porque, estando livres do
cativeiro dos egípcios e das males que suportaram no deserto, julgavam nada
mais ter de recear. E, poucos dias depois da queda de Jerico, Josué mandou três
mil homens contra a cidade de Ai. Combateram os inimigos, mas foram derrotados,
e trinta e seis dentre eles morreram na luta. A notícia dessa desgraça causou
mais aflição ao exército que a perda, a qual não foi grande, embora todos os
mortos fossem pessoas de grande mérito. Por serem já senhores do país de modo
absoluto e segundo a promessa de Deus, seriam sempre vitoriosos, mas viram que
essa vitória erguia o ânimo dos inimigos. Assim, cobriram-se com saco e
entregaram-se de tal modo à dor que passaram três dias em lamentações, sem
desejar comer.
Josué, vendo-os tão desconsolados e abatidos, recorreu a
Deus. Prostrando-se em terra, disse-lhe confiante: "Não foi por
temeridade, Senhor, que empreendemos a conquista deste país. Moisés, vosso
servidor, nos induziu a isso, após a promessa — que lhe fizestes e confirmastes
por meio de milagres — de que nos tornaríamos donos do país e triunfaríamos
sempre sobre os nossos inimigos. Nós lhe vimos o efeito em vários fatos, mas
esta perda tão inesperada parece dar-nos motivo para duvidar e nada mais
esperar para o futuro. No entanto, meu Deus, como sois Todo-poderoso, é fácil
para vós socorrer-nos, mudar a nossa tristeza em alegria e o nosso desânimo em
confiança e dar-nos a vitória".
Tendo Josué rogado desse modo, Deus ordenou-lhe que se
levantasse e fosse purificar o exército, pois estava manchado de sacrilégio
pelo roubo de uma coisa que devia ser consagrada a Ele, e aquela era a causa da
desgraça que lhes sucedera. Depois do castigo a tão grande crime, porém, seriam
vitoriosos. Josué referiu esse oráculo ao povo e lançou a sorte em presença do
sumo sacerdote Eleazar e dos magistrados.
A sorte caiu sobre a tribo de Judá. Ele sorteou as famílias
dessa tribo, e a escolha caiu sobre a de Zacarias. Por fim lançou a sorte sobre
todos os homens dessa família, e ela caiu sobre Acã, o qual, vendo que era
impossível ocultar o que Deus descobrira, confessou o seu furto e trouxe-o à
presença do povo. Mataram-no imediatamente e, como sinal de infâmia,
enterraram-no de noite, como se fora executado publicamente.
Josué 8. Josué, depois de haver purificado o exército,
levou-o contra os habitantes de Ai. À noite, colocou homens de emboscada
próximo da cidade e tentou ao raiar do dia uma escaramuça. Como a vitória que
os inimigos haviam obtido os tornara ousados, atracaram-se corajosamente com os
hebreus. Estes, a fim de afastá-los da cidade, simularam fugir, mas de repente
voltaram-se de frente para eles, deram sinal aos que estavam escondidos e
marcharam todos juntamente para a cidade. Apoderaram-se dela sem trabalho
algum, porque os habitantes estavam tão certos da vitória que uma parte se
achava sobre as muralhas e outra parte ficara do lado de fora para presenciar o
combate.
Os hebreus mataram todos os que lhes caíram nas mãos, sem
perdoar um sequer. Por outro lado, Josué desbaratou as tropas que haviam
corrido ao seu encontro, as quais pensavam salvar-se na cidade, mas, vendo que
ela fora tomada e ardia em chamas e assim não podendo esperar socorro algum,
fugiram para o campo, desordenadamente. Fez-se nessa cidade um número muito
grande de prisioneiros entre mulheres, crianças e escravos e arrebatou-se uma
presa de grande valor: muito gado e dinheiro em moedas. Josué distribuiu tudo
ao exército, que ainda estava acampado em Gilgal.
185. Josué 9. Quando os gibeonitas, que não estão muito
longe de Jerusalém, souberam do que acontecera em jerico e em Ai, não duvidaram
de que Josué viria imediatamente contra eles e nem pensaram em tentar aplacá-lo
com orações, pois sabiam que ele declarara guerra mortal aos cananeus. Julgaram
mais conveniente estabelecer uma aliança com os hebreus e disso convenceram os
ceferitanos e os catierinitanos, seus vizinhos, pois era o único meio de
escapar do perigo que os ameaçava. Escolheram em seguida os mais hábeis dentre
eles e os enviaram a Josué. Os embaixadores julgaram que, para obter êxito no
seu intento, não deveriam dizer que eram cananeus, mas, ao contrário, fazer
pensar que o seu país ficava muito longe e que nenhuma ligação tinham com eles.
Foi a reputação da virtude dos hebreus que os levou a
procurar a amizade destes. Para justificar o embuste, tomaram vestuários
velhos, a fim de fazer crer que vinham de longa caminhada, e, depois de assim
se apresentarem à assembléia dos principais da cidade, disseram-lhes que os
habitantes de sua cidade e das cidades vizinhas, vendo que Deus tinha tanto
afeto pela nação hebréia a ponto de desejar torná-los senhores do país inteiro
de Canaã, os enviaram para fazer aliança com eles e pedir que os tratassem como
compatriotas, sem no entanto mudar coisa alguma de seus antigos costumes ou de
sua maneira de viver. E, para mostrar-lhes como fora longa a caminhada que
haviam feito, exibiram-lhes as vestes.
Josué, acreditando nas palavras deles, concedeu-lhes o que
pediam. Eleazar, sumo sacerdote, e o Senado prometeram-lhes com juramento
tratá-los como amigos e aliados, e o povo ratificou a aliança. Josué levou em
seguida o exército às montanhas do país de Canaã, onde veio a saber que os
gibeonitas eram cananeus e vizinhos de Jerusalém. Mandou então chamar os
principais dentre eles e queixou-se da mentira que haviam contado. Eles
responderam que se sentiram obrigados a isso, porque não viam outro meio de se
salvar. Para tratar do assunto, Josué reuniu o sumo sacerdote e o Senado. Foi
resolvido manter-se a palavra, pois fora dada com juramento, mas os gibeonitas
seriam obrigados a servir em obras públicas. E assim, esse povo evitou o perigo
que o ameaçava.
186. Josué 10. Esse ato dos gibeonitas irritou de tal modo o
rei de Jerusalém que ele reuniu quatro reis vizinhos para juntos fazer-lhes
guerra. Os gibeonitas, vendo-os acampados perto de uma fonte pouco distante de
sua cidade, prontos para atacá-los, recorreram a Josué. Assim, por uma estranha
circunstância, quando tudo tinham a temer dos habitantes de seu próprio país, a
sua única esperança de salvação estava no auxílio daqueles que tinham vindo para
destruí-los.
Josué avançou imediatamente com todo o seu exército. Marchou
dia e noite e atacou os inimigos ao despontar do dia, quando estavam prestes a
dar o assalto. Colocou-os em fuga, perseguindo-os pelas colinas até o vale de
Bete-Horom. Jamais se viu tão claramente como nesse combate o quanto Deus
auxiliava o seu povo. Pois, além dos trovões, dos raios e de uma saraiva
extraordinária, por um estranho prodígio e contra a ordem da natureza o dia
prolongou-se, para impedir que as trevas da noite roubassem aos hebreus parte
da vitória.
Os cinco reis, pensando encontrar segurança numa caverna
perto de Maquedá, para onde se retirariam, foram aprisionados por Josué, que os
matou a todos. Sabemos, pelo que está escrito nos Livros Sagrados conservados
no Templo, que aquele foi um dia mais comprido que os outros. Depois de tamanho
êxito, Josué levou o exército para os montes de Canaã e, depois de aí ter
realizado grande mortandade entre os seus habitantes e obtido grande presa,
reconduziu-o a Gilgal.
187. Josué 11. A fama das vitórias dos hebreus e de que eles
não poupavam um só dos inimigos, matando todos os que lhes caíam nas mãos,
instigou contra eles os reis do Líbano, que também eram da descendência dos
cananeus. E os dessa nação, que habitam os campos, chamaram também em seu
auxílio os filisteus. Assim, vieram todos juntos, com trezentos mil soldados de
infantaria, dez mil cavaleiros e vinte mil carros acampar perto de Berote,
cidade da Galiléia, pouco distante de uma outra do mesmo país, de nome Alta Cades.
Tão temível exército deixou assustados os israelitas, de tal
modo que o próprio Josué parecia também ter perdido a coragem. Deus censurou-os
por seu temor e ainda mais por não confiarem no seu auxílio, pois Ele lhes
prometera a vitória. Ordenou-lhes que cortassem o jarrete de todos os cavalos
que capturassem e queimassem todos os carros. Assim, tranqüilizaram-se.
Marcharam corajosamente contra os inimigos, alcançaram-nos ao quinto dia e
deram-lhes combate.
A luta foi renhida, e a mortandade entre os inimigos, quase
inacreditável. Vários foram mortos quando fugiam, muito poucos escaparam e
nenhum dos reis se salvou. Depois de assim tratarem os homens, não pouparam
também os cavalos e queimaram todos os carros. Os vencedores devastaram em
seguida todo o país, sem que ninguém aparecesse para lhes opor resistência,
forçaram as cidades e passaram a fio de espada todos os que lhes caíram nas
mãos.
188. Ao fim de cinco anos, o tempo que durou essa guerra, só
restava dos cananeus um pequeno número, que se retirara para lugares bem
fortificados. Josué, ao partir de Gilgal, levou o exército para os montes e
colocou o santo Tabernáculo na cidade de Silo, cuja localização parecia muito
bela para moradia, até que se oferecesse ocasião favorável para a construção do
Templo. Foi depois com todo o povo a Siquém, onde, segundo a ordem deixada por
Moisés, dividiu o exército em dois, colocando metade sobre o monte Gerizim e
metade sobre o Ebal, e ergueu ali um altar. Os sacerdotes e os levitas
ofereceram sacrifícios a Deus, proferiram as maldições de que falei
anteriormente, gravaram-nas sobre o altar e voltaram a Silo.
189. Josué, já
bastante carregado de anos, vendo que as cidades que restavam aos cananeus eram
quase inexpugnáveis, tanto por causa de sua posição quanto porque esses povos
sabiam que os hebreus haviam saído do Egito com o propósito de se tornar
senhores do país de Canaã e por isso empregaram todo o tempo em tornar esses
lugares imunes às conquistas, reuniu todo o povo em Silo e falou-lhes dos
felizes empreendimentos com que Deus os havia favorecido até ali, porque tinham
observado as leis que Ele lhes outorgara.
Haviam derrotado trinta e um reis, que se atreveram a lhes
resistir, e desfeito em pedaços os seus exércitos, dos quais apenas alguns
conseguiram escapar às armas vitoriosas. Tomaram também a maior parte de suas
cidades, e as que restavam eram tão fortes e contavam com tão grande obstinação
de seus defensores que seriam necessários grandes cercos para vencê-las. Agora
ele julgava necessário dispensar as tribos que moravam além do Jordão, depois
de agradecer-lhes por terem passado o rio para correr com eles os perigos
daquela guerra, e escolher dentre as que restavam homens de probidade
comprovada que fossem constatar com exatidão a gran-Ho7a r> a fertilidade de
todo o oaís de Canaã, retoínando com uma descrição fiel.
A proposta foi aprovada de modo geral, e Josué mandou dez
homens acompanhados de peritos geômetras para medir toda a terra e avaliá-la
segundo julgassem ser mais ou menos fértil. A terra do país de Canaã, embora
apresente extensos campos com abundância de frutos, não pode ser tida como
excelente se comparada com outras do mesmo país, nem como muito fértil se
confrontada com as de Jerico e Jerusalém, situadas na maior parte entre montes
e cuja extensão não é muito grande, mas cujos frutos sobrepujam os de todos os
outros países, quer pela abundância, quer pela beleza.
Foi por esse motivo que Josué estabeleceu a apreciação
segundo a fertilidade, e não segundo a extensão das propriedades, porque muitas
vezes acontece de uma única medida de terra valer mais que várias dela mesma.
Esses dez enviados, depois de empregar sete meses nesse trabalho, voltaram a
Silo, onde, como já disse, estava então o Tabernáculo. Josué reuniu Eleazar, o
sumo sacerdote, o Senado e os príncipes das tribos e fez com eles a divisão de
todo o país entre as nove tribos e metade da de Manasses, na proporção do
número de homens de cada tribo.
A tribo de Judá recebeu a Alta Judéia, que vai até Jerusalém
e em largura até o lago de Sodoma, estando nela as cidades de Asquelom e Gaza.
A tribo de Simeão teve aquela parte da Iduméia que se limita
com o Egito e a Arábia.
A tribo de Benjamim teve o país que se estende desde o rio
Jordão até o mar e em largura de Jerusalém a Betei. Esse espaço é muito
pequeno, por causa da fertilidade da terra, pois nele estão compreendidas as
cidades de Jerusalém e Jerico.
A tribo de Efraim teve o país que se estende desde o Jordão
até Gadara e em largura de Betei até Campo Longo.
A metade da tribo de Manasses teve o território cujo
comprimento vai desde o Jordão até a cidade de Dor e em largura até a cidade de
Bete-Seã, que hoje se chama Scitópolis.
A tribo de Issacar teve o território compreendido entre o
Jordão até o monte Carmelo, cuja largura vai até o monte Itabarim.
A tribo de Zebulom teve o país que se limita com o monte
Carmelo e o mar e se estende até o lago de Genesaré.
A tribo de Aser teve aquela planície rodeada de montes que
está por trás do monte Carmelo, em frente a Sidom, na qual está a cidade de
Arcé, outrora chamada Atipo.
A tribo de Naftali teve a Alta Galiléia e a região que se
estende desde o lado do oriente até a cidade de Damasco, o monte Líbano e a
nascente do Jordão, que tem a sua origem nesse monte, do lado que limita com a
cidade de Arcé, para o norte.
A tribo de Dã teve os vales que tendem para o ocidente,
cujos limites são Azor e Doris e onde se encontram as cidades de Jamnia e de
Cita e todo o território que começa em Acarom* e termina no monte, onde
começava a parte da tribo de Judá.
Assim distribuiu Josué às nove tribos e à metade da de
Manasses as seis províncias a que seis dos filhos de Canaã haviam dado os
próprios nomes. Quanto à sétima, que é a dos amorreus, a qual trazia também o
nome de um dos filhos de Canaã, foi dada por Moisés às tribos de Rúben e de
Cadê e à metade da tribo de Manasses, como já vimos. Mas as terras dos
sidônios, aruseenses, amateenses e ariteenses não foram incluídas nessa
partilha.
______
* Ou Ecrom.
190. Como Josué, por causa da idade, não podia mais tomar
parte nas várias empresas e percebia que aqueles a quem ele disso incumbia
agiam com negligência, ele exortou as tribos a trabalharem corajosamente, cada
uma na extensão do território que lhe coubera em partilha, a fim de se
exterminar o resto dos cananeus. Disse-lhes que assim cuidariam não somente de
sua própria segurança, mas da consolidação de sua religião e de suas leis,
fazendo-os lembrar ainda o que Moisés lhes dissera e o que já conheciam pela
própria experiência.
Acrescentou que entregassem nas mãos dos levitas as trinta e
oito cidades que faltavam para completar o número de quarenta e oito: as dez
outras já lhes haviam sido entregues além do Jordão, no país dos amorreus.
Destinou três dessas trinta e oito para serem lugares de refúgio, porque não
havia recomendação mais insistente que a de executar com rigor tudo o que
Moisés determinara. As três cidades foram: Hebrom, na tribo de Judá, Siquém, na
tribo de Efraim, e Cades, que está na Alta Galiléia, na tribo de Naftali.
Dividiu depois o que restava da presa, a qual era tanta, quer em ouro, quer em
vestes, quer em toda sorte de objetos, que a República e seus habitantes
ficaram ricos. Quanto aos cavalos e outros animais, o seu número era
incontável.
191. Josué 23. Josué reuniu depois todo o exército e assim
falou às tribos levadas para o outro lado do jordão, cinquenta mil combatentes
e os que se haviam juntado aos das outras tribos para a conquista que acabavam
de fazer: "Aprouve a Deus, que é não somente o Senhor, mas também o Pai de
nossa nação, dar-nos este rico país, com promessa de o possuirmos para sempre e
segundo a sua ordem. E, como vos unistes tão generosamente a nós nesta guerra,
é bem razoável, agora que nada mais resta de difícil a se fazer, que volteis a
desfrutar em vossas casas um justo descanso. Assim como não podemos duvidar de
que se tivéssemos ainda necessidade de vosso auxílio teríeis prazer em no-lo
dar, não queremos abusar de vossa boa vontade, mas, ao contrário, muito vos
agradecemos pela vossa participação nos mesmos perigos que corremos até aqui.
Pedimo-vos somente que conserveis por nós sempre o mesmo afeto e que vos
lembreis de que, depois da proteção de Deus, devemos ao vosso auxílio a
felicidade de que desfrutamos e que deveis igualmente ao nosso a que possuis. Recebestes
como nós a recompensa pelos trabalhos que juntos sustentamos nesta guerra,
porque ela também vos enriqueceu e, além da quantidade de ouro, prata e presas
que levais, deu-vos uma coisa que vos deverá ser ainda mais preciosa: a
generosidade que todos conhecemos em vós e que estaremos igualmente sempre
prontos a vos manifestar. Pois, como é verdade que depois da morte de Moisés
não executastes com menor solicitude e afeto as ordens que recebestes,
cumprindo-as como se ele ainda estivesse vivo, nada se pode acrescentar à
gratidão que sentimos. Deixamo-vos, pois, voltar às vossas casas e vos rogamos
que nunca ponhais limites à amizade, que deve ser inviolável entre nós, e que
este rio que nos separa não nos impeça de nos considerarmos sempre como hebreus,
pois pelo fato de morarmos em margens diferentes não somos menos que os outros
da raça de Abraão. E, tendo o mesmo Deus dado vida aos vossos antepassados e
aos nossos, somos igualmente obrigados a observar, tanto na religião quanto no
nosso proceder, as leis que dEle recebemos por meio de Moisés. É a essas leis
santas e divinas que nos devemos inviolavelmente apegar e crer que enquanto
delas não nos afastarmos Deus sempre nos protegerá e combaterá à frente de
nossos exércitos, ao passo que se abraçarmos os costumes das outras nações Ele
não somente se afastará de nós, mas nos abandonará completamente".
Depois que Josué assim falou, disse adeus em particular aos
chefes das tribos que voltavam e em geral a todo o exército. Todos os hebreus
que ficaram com ele os acompanharam, e as lágrimas mostravam o quanto essa
separação lhes era dolorosa.
192. Josué 22. Depois que passaram o Jordão, as tribos de
Rúben e de Gade e metade da tribo de Manasses ergueram um altar às margens do
rio, para dar à posteridade um sinal de sua estreita aliança com os
compatriotas que moravam do outro lado. As outras tribos souberam-no e, não
conhecendo a causa, imaginaram que o
altar fora erguido para prestar adoração sacrílega a divindades estrangeiras. E
o seu zelo, sob a falsa suspeita de que eles haviam abandonado a fé de seus
antepassados, levou-as a tomar as armas para castigá-los por tão grande crime.
Julgaram que a honra de Deus lhes deveria ser muito mais
importante que o parentesco de sangue ou a posição de quem cometera semelhante
impiedade e, nesse ímpeto de cólera, desejaram marchar naquele mesmo instante
contra eles. Porém Josué, o sumo sacerdote Eleazar e o Senado detiveram o povo,
alegando que era preciso, antes de se recorrer às armas, saber qual a intenção
daquelas tribos, e, se por acaso fosse a que imaginavam, poderiam então agir
pela força contra eles. Em seguida, mandaram Finéias, filho de Eleazar,
acompanhado de dez outros respeitáveis enviados para saber com que intenção
haviam construído aquele altar à beira do rio.
Quando lá chegaram, Finéias assim falou-lhes, em assembléia:
"A falta que cometestes é demasiado grande para ser castigada somente com
palavras. No entanto a consideração pelo sangue que nos une tão estreitamente e
a nossa esperança de que lamentareis o fato de a terdes cometido impediu-nos de
tomarmos imediatamente as armas para vos castigar. Mas, para evitar que nos
acusem de deliberar levianamente esta guerra, vimos como delegados para junto
de vós, a fim de sabermos o que vos levou a erguer esse altar à beira do rio,
se tivestes boas razões para isso, e assim não tenhamos motivo para vos
censurar. Se fordes culpados, todavia, executaremos a vingança que merece tão
grande crime, isto é, faltar ao que deveis a Deus. Temos grande dificuldade em
crer que, conhecendo bastante a sua vontade e tendo vós mesmos ouvido as leis
promulgadas pela boca de Moisés, não nos tenhais deixado para voltar a um país,
o qual possuis pela bondade divina, apenas para vos esquecerdes dos favores de
que Ele se dignou cumular-vos, para abandonar o seu Tabemáculo, a arca de sua
aliança e o seu altar e adotar as impiedades dos cananeus, sacrificando aos
seus falsos deuses. Se no entanto fostes infelizes o bastante para cair nessa
falta, nós vo-la perdoaremos, contanto que nela não persistais e volteis à
religião de nossos antepassados. Se vos obstinardes no vosso pecado, nada
haverá que não façamos para mantê-la e ver-nos-eis, armados do zelo pela honra
de Deus, tornar a passar o Jordão e tratar-vos do mesmo modo como tratamos os
cananeus. Pois não penseis que, estando separados de nós por um grande rio,
ficais fora dos limites do poder de Deus, porque Ele se estende por toda parte,
e é impossível furtar-se à sua justiça e ao seu domínio. Se a província em que
habitais é um obstáculo à vossa salvação, dèveis abandoná-la, por mais rica que
seja, e faremos uma nova divisão. Mas seria muito melhor renunciardes ao vosso
erro, como vos aconse-lhamos, pelo amor que tendes às vossas esposas e aos
vossos filhos, a fim de que não sejamos obrigados a vos declarar inimigos.
Pois, para vos salvardes e a tudo o que vos é caro, somente uma destas duas
deliberações deveis tomar: ou deixar-vos persuadir por nossas razões ou
declararmos guerra uns contra os outros".
Assim falou Finéias, e os principais da assembléia
responderam-lhe: "jamais pensamos em alterar a união que tão estreitamente
nos une ou em nos afastar da religião de nossos antepassados: nela queremos
sempre nos manter. Reconhecemos que há um só Deus, que é o Pai comum a todos os
hebreus, e desejamos sacrificar apenas sobre o altar de bronze que está à porta
do Tabernáculo. Quanto ao que erguemos às margens do Jordão e que deu lugar às
suspeitas que tivestes de nós, não o fizemos com intenção de nele oferecer
vítimas, porém somente para dar à posteridade um monumento à união que existe
entre nós e à obrigação que temos de permanecer firmes na mesma crença. Deus é
testemunha do que vos dizemos, e assim, em vez de continuar a nos acusar,
deveis ter para o futuro uma opinião melhor de nós, como não desconfiar de um
crime do qual ninguém da descendência de Abraão se pode tornar culpado sem
merecer a pena de morte".
Finéias ficou tão satisfeito com essa resposta que lhes
teceu grandes elogios e, tendo voltado a Josué, prestou-lhe contas de sua embaixada
na presença de todo o povo. Houve alegria geral por ninguém ser obrigado a
tomar armas para derramar o sangue dos irmãos. Deram graças a Deus por meio de
sacrifícios, e cada qual retornou à sua casa. Então Josué fixou moradia em
Siquém.
193. Josué 24. Depois de transcorridos vinte anos, esse
excelente chefe dos israelitas, achando-se velho e cansado, reuniu o Senado, os
príncipes das tribos, os magistrados, os principais da cidade e os mais
importantes dentre o povo. Falou-lhes da série contínua de benefícios que Deus
lhes concedera, fazendo-os passar da miséria a tão grande prosperidade e
glória. Exortou-os a observar rigorosamente os mandamentos, a fim de
conservá-lo sempre favorável. Declarou que se via obrigado a adverti-los, antes
de morrer, sobre os deveres que tinham de cumprir e rogou-lhes que deles jamais
se esquecessem. Ao encerrar as suas palavras, entregou o espírito, na idade de
cento e dez anos, dos quais passara quarenta sob o governo de Moisés e, depois
da morte deste, vinte e cinco anos orientando o povo.
Era um homem tão prudente, eloqüente, sensato em seus
conselhos, corajoso na ação e capaz das mais importantes ações na paz e na
guerra, que nenhum outro de sua época foi ao mesmo tempo tão excelente general
e tão hábil governante de um povo tão numeroso. Enterraram-no em Timnate-Sera,
cidade da tribo de Efraim. Eleazar, sumo sacerdote, morreu também nessa mesma
época, e Finéias, seu filho, sucedeu-o. Ainda hoje se vê o seu túmulo, na
cidade de Gibeá.
194. O povo consultou
o novo sacerdote para saber qual era a vontade de Deus referente a quem deveria
ser o chefe contra os cananeus, e ele respondeu que se devia deixar à tribo de
Judá a direção dessa guerra. Assim foi-lhe entregue essa responsabilidade, e a
tribo de Simeão foi designada para ajudá-la, com a condição de que Judá, depois
exterminar o que restava dos cananeus na extensão do território de sua tribo,
prestaria o mesmo auxílio à tribo de Simeão, para exterminar também os que
restavam entre eles.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine
o nosso entendimento
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