História De Israel – Teologia 31.45
CAPÍTULO 6
O PROFETA BALÃO TENTA AMALDIÇOAR OS ISRAELITAS A ROGO DOS
MIDIANITAS E DE BALAQUE, REI DOS MOABITAS, MAS DEUS O OBRIGA A ABENÇOÁ-LOS.
VÁRIOS ISRAELITAS, E ESPECIALMENTE ZINRI, LEVADOS PELO AMOR ÀS FILHAS DOS
MIDIANITAS, ABANDONAM A DEUS E SACRIFICAM AOS FALSOS DEUSES. CASTIGO ESPANTOSO
QUE DEUS LHES MANDA, PARTICULARMENTE A ZINRI.
165. Números 22, 23 e 24. Balaque, rei dos moabitas e unido
aos midianitas pela amizade e por uma antiga aliança, começou a temer por si
mesmo ao ver o progresso dos hebreus. Ele não sabia que Deus lhes havia
proibido empreender a conquista de outros países que não o de Canaã. Assim, por
um mau conselho, resolveu opor-se a eles. Todavia, como não ousava atacar uma
nação cujas vitórias haviam tornado orgulhosa e altiva, pensou apenas em
impedi-la de crescer e de continuar progredindo. Mandou por isso embaixadores
aos midianitas, a fim de deliberar a respeito do que deveriam fazer.
Os midianitas enviaram esses mesmos embaixadores, juntamente
com os homens mais importantes dentre o povo, a Balaão — célebre profeta e
amigo de Balaque —, que morava próximo do Eufrates, para rogar-lhe que viesse
fazer imprecações contra os israelitas. Ele recebeu muito bem os embaixadores e
consultou a Deus para saber o que lhes responder. Deus proibiu-o de fazer o que
desejavam, e por isso Balaão respondeu-lhes que bem queria poder testemunhar a
afeição que lhes tinha, mas Deus, ao qual devia o dom da profecia, o proibira
de aceitar a proposta, porque Ele amava o povo ao qual eles queriam obrigá-lo a
amaldiçoar. Por esse motivo, ele os aconselhava a fazer a paz com os
israelitas.
Voltaram os embaixadores com essa resposta, mas os midianitas,
instados pelo rei Balaque, enviaram uma segunda embaixada ao profeta. Como este
desejava agradá-los, consultou de novo a Deus, o qual, julgando-se ofendido,
ordenou-lhe que fizesse o que os embaixadores queriam. Balaão, não percebendo
que Deus lhe falara encolerizado pelo fato de ele não ter seguido a sua ordem,
partiu com os embaixadores. No caminho, encontrou uma estrada entre dois
barrancos, tão estreita que mal dava para passar, e aí um anjo veio ao seu
encontro.
Quando o asno sobre o qual Balaão estava montado percebeu o
anjo, quis voltar atrás e apertou o seu senhor tão fortemente contra um dos
muros que o feriu, sem que os golpes dados pelo profeta, pela dor que sentia,
pudessem fazer o animal caminhar. Como o anjo permanecesse parado e Balaão continuasse
a bater no asno, Deus permitiu que o animal falasse ao profeta, com palavras
tão distintas quanto uma criatura humana teria podido proferir, que era
estranho que, não tendo ele, o animal, dado o menor passo em falso, Balaão lhe
batesse e não visse que Deus não aprovava que o profeta fosse ateVider ao
desejo daqueles a quem ia encontrar.
Esse fato prodigioso espantou o profeta, ao mesmo tempo que
o anjo lhe aparecia e o repreendia severamente por bater tanto no asno, sem
motivo, quando era ele mesmo quem merecia ser castigado, por resistir à vontade
de Deus. Essas palavras aumentaram o espanto de Balaão, e ele quis voltar
atrás, mas Deus lhe ordenou que continuasse o caminho e só falasse o que Ele
lhe inspirasse. Assim, ele foi ter com o rei Balaque, que o recebeu com
alegria, e pediu ao príncipe que o fizesse levar a alguma montanha de onde
pudesse ver o acampamento dos israelitas. Balaque, acompanhado por vários de
sua corte, levou-o ele mesmo a uma montanha que distava do acampamento uns
sessenta estádios. Balaão, depois de refletir, disse ao rei que fizesse erguer
sete altares, para neles oferecer a Deus sete touros e sete carneiros. Isso se
fez, e o profeta ofereceu as vítimas em holocausto, para saber de que lado
surgiria a vitória.
Dirigindo depois a palavra ao exército dos israelitas, assim
falou: "Povo bem-aventurado, do qual o próprio Deus deseja ser guia e quer
cumular de benefícios, velando incessantemente pelas vossas necessidades.
Nenhuma outra nação vos igualará em amor pela virtude, e os que nascerem de vós
ainda vos hão de sobrepujar, porque Deus, que vos ama como sendo o seu povo,
vos quer fazer o povo mais feliz de todos os homens que o Sol ilumina com os
seus raios. Vós possuireis esse rico país que Ele vos prometeu. Vossos filhos possuí-lo-ão
depois de vós, e as terras e o mar ressoarão com a fama do vosso nome e
admirarão o brilho de vossa glória. Vossa posteridade multiplicar-se-á de tal
modo que não haverá lugar no mundo onde não se difunda. Exército
bem-aventurado, que por maior que sejais sois composto por descendentes de um
único homem. A província de Canaã ser-vos-á suficiente agora, mas um dia o
mundo inteiro não será grande o bastante para vos conter: o vosso número será
igual ao das estrelas. Não povoareis somente a terra firme, mas também as
ilhas. Deus vos dará em abundância toda sorte de bens durante a paz e vos fará
vitoriosos na guerra. Assim, devemos nós desejar que os nossos inimigos e os
seus descendentes ousem combater contra vós, pois não poderão fazê-lo sem a sua
completa ruína, de tanto que Deus, que se compraz em elevar os humildes e
humilhar os soberbos, vos ama e favorece".
Balaão não pronunciou essas palavras proféticas de si mesmo,
mas por inspiração do Espírito de Deus. O rei Balaque, ferido de dor, disse-lhe
que aquilo não era o que ele lhes havia prometido e censurou-o porque, depois
de haver recebido grandes presentes para amaldiçoar os israelitas, ele lhes
dava, ao contrário, mil bênçãos.
O profeta respondeu-lhe: "Credes, então, que quando se
trata de profetizar depende de nós dizer ou não o que desejamos? É Deus quem
nos faz falar como lhe apraz, sem que tenhamos parte alguma nisso. Não me
esqueci do pedido que os midianitas me fizeram. Vim com a intenção de
contentá-los: não pensava em publicar elogios aos hebreus nem falar dos favores
de que Deus resolveu cumulá-los. Mas Ele foi mais poderoso que eu, que
resolvera, contra a sua vontade, agradar aos homens. Pois quando Ele entra em
nosso coração torna-se dono dele. Assim, por desejar conceder felicidade a essa
nação e tornar imortal a sua glória, Ele pôs-me na boca as palavras que
pronunciei. No entanto, como os vossos pedidos e os dos midianitas são-me assaz
importantes e para não deixar de fazer tudo o que dependa de mim, sou de
opinião que se ergam outros altares e se façam outros sacrifícios, a fim de eu
ver se poderemos aplacar a Deus com as nossas orações!"
Balaque aprovou essa proposta. Os sacrifícios foram
renovados, mas Balaão não pôde conseguir de Deus a permissão para amaldiçoar os
israelitas. Ao contrário, tendo-se prostrado em terra, predizia as desgraças
que sucederiam aos reis e às cidades que os combatessem, entre as quais algumas
que ainda não foram construídas. Mas o que aconteceu até aqui às que
conhecemos, tanto em terra firme quanto nas ilhas, nos faz crer que o resto
desse oráculo um dia há se de realizar.
166. Números 25. Balaque,. muito irritado por ver-se
desiludido em suas esperanças, despediu Balaão sem lheprestar homenagem alguma.
Tendo o profeta chegado próximo do Eufrates, pediu para falar ao rei e aos
príncipes dos midianitas, aos quais disse: "Já que desejais,, ó rei, e
vós, midianitas, que eu atenda em alguma coisa aos vossos rogos, contra a
vontade de Deus, eis tudo o que vos posso dizer: não espereis que a raça dos israelitas
pereça pelas armas, pela peste, pela carestia ou por qualquer outro acidente,
pois Deus, que a tomou sob a sua proteção, a preservará de todas as desgraças.
Ainda que eles sofram algum desastre, levantar-se-ão com mais glória ainda,
pois se tornarão mais sensatos pelo castigo. Mas se quereis triunfar sobre eles
por algum tempo, dar-vos-ei o meio para tanto. Mandai ao seu acampamento as
mais belas de vossas filhas, bem adornadas, e ordenai-lhes que de nada se
esqueçam para suscitar amor aos mais jovens e aos mais corajosos dentre eles.
Dizei-Ihes que quando os virem ardendo de paixão por elas finjam querer
retirar-se e quando rogarem que fiquem respondam que não é possível, a menos
que eles prometam solenemente renunciar às leis de seu país e o culto ao seu
Deus para adorar os deuses dos midianitas e dos moabitas. É o único meio que
tendes para fazer com que Deus se encha de cólera contra eles".
Dizendo essas palavras, partiu. Os midianitas não titubearam
em executar logo o conselho, isto é, enviar as suas filhas e instruí-las
conforme ele lhes havia dito. Os jovens hebreus, arrebatados pela beleza das
moças, conceberam uma ardente paixão por elas, declarando-a, e a maneira pela
qual elas lhes responderam acendeu-a ainda mais. Quando as moças os viram perdidamente
enamorados, fingiram querer voltar ao seu país, mas eles, com lágrimas,
pediram-lhes que ficassem e prometeram desposá-las, tomando a Deus como
testemunha do juramento que faziam: não as amariam somente como esposas, mas as
tornariam senhoras absolutas deles próprios e de todos os seus bens.
Responderam elas: "Não precisamos de bens ou de algo
que nos possa fazer felizes, sendo nós muito queridas por nossos pais, tanto
quanto podemos desejar, e não viemos aqui para fazer comércio com a nossa
beleza, mas, considerando-vos estrangeiros pelos quais nutrimos grande estima,
quisemos fazer-vos esta cortesia. Agora que demonstrais tanto afeto por nós e
tanto desprazer em ver-nos partir, não poderíamos deixar de ser vencidas pelos
vossos rogos. Assim, se quereis, como dizeis, dar-nos a vossa palavra de nos
tomardes por esposas, que é a única condição capaz de nos reter, ficaremos e
passaremos convosco toda a nossa vida. Mas tememos que, depois de vos terdes
cansado de nós, nos devolvais vergonhosamente, e vós nos deveis perdoar um
temor tão razoável".
Os moços, enamorados, ofereceram-se para dar as garantias
que elas desejassem de sua fidelidade, ao que as moças responderam: "Pois
se tendes essa intenção, e como constatamos que tendes costumes diferentes dos
de todos os outros povos, como o de só comer certas carnes e usar determinadas
bebidas, é necessário, se nos quiserdes desposar, que adoreis os nossos deuses.
Do contrário, não poderemos crer que o amor que dizeis sentir por nós seja
verdadeiro. Afinal, não se poderia julgar estranho adorardes os deuses do país
para onde ireis, aos quais todas as outras nações adoram, ou censurar-vos por
isso, enquanto o vosso Deus só é adorado por vós e as leis que observais vos
são todas particulares. Assim, toca-vos escolher: ou viver como os outros
homens ou ir procurar outro mundo, onde possais viver como vos apraz".
Esses infelizes, levados por sua brutal e cega paixão,
aceitaram as condições: abandonaram a fé de seus pais, adoraram vários deuses,
ofereceram-lhes sacrifícios semelhantes aos dos midianitas e comeram
indiferentemente de todas as iguarias. Para agradar àquelas moças, que se
tornaram suas esposas, não temeram violar os mandamentos do verdadeiro Deus. E
todo o exército viu-se num momento contaminado pelo veneno espalhado pelos
moços, e a antiga religião ficou exposta a grave risco. Uma nova rebelião, mais
perigosa que as primeiras, já começava a se esboçar.
Os moços, tendo experimentado as doçuras da liberdade que
lhes davam as leis estrangeiras de viver segundo desejassem, deixavam-se levar
sem nenhum obstáculo e corrompiam com o seu exemplo não apenas o povo, mas até
mesmo pessoas de maior distinção. Zinri, chefe da tribo de Simeão, desposou
Cosbi, filha de Zur, um dos príncipes de Midiã. E, para agradá-lo, ofereceu
sacrifícios segundo o uso desse país e contra as ordens contidas na lei de
Deus.
Moisés, vendo tão estranha desordem e temendo-lhes as
conseqüências, reuniu o povo e sem censurar a ninguém em particular, receando
fazer desesperar os que julgando poder esconder a propria falta eram capazes de
voltar ao dever, disse-lhes que era coisa indigna de sua virtude e da de seus
antepassados preferir a voluptuosidade à religião; que eles deviam cair em si
mesmos enquanto ainda era tempo e mostrar a força de seu espírito, não
desprezando as leis santas e divinas, mas reprimindo a paixão; que seria
estranho, após terem sido tão sensatos no deserto, se deixarem levar num país
tão belo a tais desordens, perdendo na abundância o mérito que haviam
conquistado durante a carestia.
Enquanto Moisés procurava com essas palavras levar os
insensatos a reconhecer o próprio erro, Zinri retrucou-lhe: "Vivei,
Moisés, se bem vos parece, segundo as leis que fizestes e que um longo uso até
hoje autorizou, sem o qual há muito tempo lhes teríeis deixado o jugo e
aprendido à vossa própria custa que não devíeis assim nos enganar. Por mim,
quero que saibais que não mais obedecerei aos vossos tirânicos mandamentos,
porque bem vejo que sob os vossos pretextos de piedade e de nos dar leis da
parte de Deus usurpastes o governo por meios de artifícios e nos reduzistes à
escravidão, proibindo-nos prazeres e tirando-nos a liberdade que todos os
homens nascidos livres devem ter. Havia, acaso, em nosso cativeiro no Egito
algo tão rude quanto o poder que vos atribuis, de nos castigar como vos apraz
segundo leis que vós mesmos estabelecestes? Vós é que mereceis ser castigado,
porque, desprezando as leis de todas as outras nações, quereis que somente as
vossas sejam observadas e preferis assim o vosso juízo particular ao de todo o
resto dos homens. Assim, como creio muito bem feito o que fiz e que era livre
para fazer, não temo declarar diante de toda esta assembléia que desposei uma
mulher estrangeira. Ao contrário, quero que o saibais de minha própria boca e
que todos o saibam. É verdade também que sacrifico aos deuses aos quais proibis
sacrificar, porque julgo não me dever submeter à tirania de receber somente de
vós o que se refere à religião e não quero que me obrigueis a desejar somente o
que quereis nem que tenhais mais autoridade sobre mim do que eu mesmo".
Zinri falava assim tanto em seu nome quanto no dos que eram
de sua opinião. O povo aguardava em silêncio e temeroso o término dessa grande
polêmica, porém Moisés não lhe quis responder, temendo incitar ainda mais a
insolência de Zinri e que outros, imitando-o, aumentassem o tumulto. Assim, a
assembléia se dissolveu, e as conseqüências desse mal teriam sido ainda mais
perigosas não fora a morte de Zinri, que se deu como conto a seguir.
Finéias, que sem contestação era tido como o primeiro de seu
tempo, tanto por causa de suas excelentes virtudes quanto pelo privilégio de
ser filho de Eleazar, sumo sacerdote e sobrinho de Moisés, não pôde tolerar a
ousadia de Zinri. Com receio de que o desprezo pelas leis aumentasse ainda se
ele ficasse impune, resolveu vingar aquele tão grande ultraje contra Deus. Como
não houvesse coisa que não fosse capaz de fazer, porque não tinha menos coragem
do que zelo, foi à tenda de Zinri e matou-o com um golpe de espada, morrendo
também a mulher deste.
Vários outros moços, levados pelo mesmo espírito de Finéias
e animados pela sua coragem e exemplo, lançaram-se sobre os que eram culpados
do mesmo pecado de Zinri e mataram grande parte deles. E uma peste enviada por
Deus fez morrer não somente todos os outros, mas também os parentes deles, que,
em vez de repreendê-los e impedir que cometessem tão grave pecado, a ele os
haviam levado. O número dos que pereceram desse modo foi de quatorze mil.
167. Números 31. Nesse entremeio, Moisés, irritado com os
midianitas, mandou o exército marchar para exterminá-los completamente, como
relatarei depois de narrar, em seu louvor, uma coisa que não deve passar em
silêncio. É que, embora Balaão tivesse vindo a rogo dessa nação para amaldiçoar
os hebreus e depois Deus o tivesse impedido, ele dera aquele detestável
conselho de que acabamos de falar, com o qual julgava poder arruinar
inteiramente a religião de nossos pais. Moisés, no entanto, concedeu-lhe a
honra de inserir aquela profecia em seus escritos, ainda que teria sido fácil
ao legislador atribuí-la a si mesmo sem que ninguém o pudesse censurar. Mas ele
quis deixar à posteridade um testemunho tão vantajoso em sua memória. Deixo,
porém, a cada qual que julgue como quiser e volto ao meu assunto.
Moisés enviou somente doze mil homens contra os midianitas,
tendo cada tribo fornecido mil combatentes. Deu-lhes por chefe a Finéias, que
acabava de restaurar a glória das leis e de vingar o crime que Zinri,
violando-as, havia cometido.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine
o nosso entendimento
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