História Do Cristianismo -
Teologia 32.286
ESCÓCIA
A Reforma efetuou mais
transformação na Escócia do que em qualquer outro país. Primeiro, porque o país
estava numa condição deplorável, e porque a Reforma na Escócia foi mais
completa. Esse país era pobre, e com um clima ingrato e um solo pouco fértil.
No Norte o povo era quase selvagem. É montanhoso, e os habitantes, chamados
"highlanders", eram divididos em tribos chamadas clãs, e eram muito
fiéis à tribo e ao seu chefe. Havia constantes brigas com outras tribos, e
travavam batalhas até a morte com seus inimigos. No Sul, na fronteira com a
Inglaterra, muitas famílias eram compostas de bandidos e ladrões, que roubavam
as fazendas e até as aldeias e cidades do Norte da Inglaterra, fazendo
sistematicamente "raids" em bandos, queimando tudo que não podiam
carregar. Levavam o despojo, gado, cavalos e carneiros para seu país. Os
exércitos ingleses entraram na Escócia e tomaram vingança pelos roubos, mas os
"raids" continuaram. Entre estas famílias escocesas havia também
brigas ou vendetas de uma geração para outra. Entre as clãs do Norte, quando um
membro de uma família encontrava-se com o membro de uma família inimiga, era
dever de ambos brigarem até a morte.
Os nobres ou fidalgos escoceses
eram ferozes e cruéis. A opressão e a injustiça campeavam por toda a parte. De
vez em quando havia um rei que governava bem, mas muitos deles encontraram
morte violenta. Sendo que os reis menores (os regentes) ou abusavam do seu
poder, ou eram fracos demais. A igreja romana possuía a maior parte das propriedades
e não pagava imposto algum, e os frades eram geralmente preguiçosos e cheios de
vícios. O martírio de Patrício Hamilton e Jorge Wishart aumentou o ódio do povo
aos padres e bispos, e muitos nobres receberam o Evangelho. João Knox foi preso
depois da morte de Wishart e serviu nas galés da França como um forçado. Foi
libertado por influência do rei Eduardo VI, da Inglaterra, que era protestante.
Depois Knox passou uns anos com
Calvino, em Genebra, e aprendeu ali suas idéias sobre o governo da igreja.
Voltou, finalmente, no ano de 1559, à Escócia, e achou que a Reforma fizera
muito progresso, mas havia luta entre os protestantes e a Regente, que era
viúva do último rei (e mãe da rainha Maria da Escócia), morava na França, por
se ter casado com o rei daquele país. A rainha-mãe era da família De Guise
(francesa), e uma católica fanática. Ela determinou acabar com a Reforma por
todos os meios ao seu alcance. Convidou um exército francês para exterminar a
Reforma, porque os protestantes estavam destruindo os ídolos nas igrejas,
acompanhados por fidalgos armados com seus soldados. Os fidalgos enviaram uma
carta à rainha Isabel da Inglaterra, pedindo um exército inglês para
ajudá-los. A rainha atendeu e mandou navios de guerra e um exército. Depois de
uma luta feroz, os ingleses e escoceses obrigaram os franceses a capitular e
voltar à França. A rainha-mãe (a regente) morreu por esta ocasião, e os reformadores
tomaram conta do reino. Foi convocada a primeira "Assembléia Geral"
da Escócia. Nesta assembléia ficou resolvido formar-se a igreja nacional
reformada da Escócia. Não reconheceram o soberano (como na Inglaterra) como
"Cabeça da Igreja", mas a Igreja da Escócia tomou uma forma
presbiteriana. Ficou resolvido acabar de vez com tudo que era da Inglaterra
romana na nova forma da Igreja da Escócia, e as doutrinas eram aproximadas às
de Calvino. Resolveram que toda paróquia devia possuir uma escola e um
ministro, e a Bíblia estaria aberta a todos.
No princípio havia
dificuldades, por falta de ministros instruídos, e muitas aldeias tinham de
ficar contentes com um estudante. Superintendentes viajavam dum lugar para
outro fiscalizando o progresso do serviço religioso. Durante a primeira geração
houve queixas contra ministros ou seminaristas porque, às vezes, frades ou
padres da igreja católica prestavam esse serviço. Na Assembléia ficou resolvido
apropriar-se a nação de todas as propriedades e riquezas da Igreja Romana,
formando um fundo eclesiástico para pagar o ordenado dos ministros superintendentes,
seminaristas, professores de escolas, e despesas das escolas, e também para
sustentar frades e freiras enxotados dos conventos que eram velhos demais para
ganhar a vida. Infelizmente alguns dos fidalgos roubaram as propriedades eclesiásticas,
e toda a riqueza não foi para o fundo da nova Igreja. Foi instituído na Escócia
um sistema de educação gratuita, para crianças de ambos os sexos, (isto séculos
antes de outros países protestantes adotarem essa medida) e a educação da
Escócia, durante séculos, foi a mais adiantada do mundo.
A rainha Maria da Escócia
voltou no ano de 1561. Era viúva porque o rei da França, seu marido, morrera.
Maria fora enviada à França menina, e educada ali na corte mais corrupta da
Europa. Ela queria que os escoceses voltassem à religião católica, mas era
tarde demais. Na face da terra não existia um povo que mais odiasse a Igreja
Romana do que os escoceses. A rainha era hábil, sutil, e sem escrúpulo. Casou
de novo e seu único filho, Tiago, tornou-se depois rei da Inglaterra e da
Escócia, unindo assim os dois reinos. Felizmente, a mãe não criou seu próprio
filho, sendo ele entregue a um fidalgo chamado Mar, para ser educado como
protestante.
Maria foi cúmplice no
assassínio do seu segundo marido e logo depois casou-se com o homem que foi
culpado deste crime. Os escoceses então pegaram em armas e avançaram contra a
Rainha e seu novo marido. Ambos foram obrigados a fugir, mas em direções
diferentes; o marido fugiu para a Dinamarca, e a rainha para a Inglaterra,
entregando-se à sua prima Isabel. Durante os 19 anos de sua estada na
Inglaterra, ela conspirou constantemente contra a rainha; e finalmente os
ministros do Estado aconselharam a sua execução, e ela foi degolada. Seu filho
Tiago fora declarado rei da Escócia quando sua mãe fugira. Quando Isabel
morreu, Tiago foi declarado rei da Inglaterra, Escócia e Irlanda. Quando Tiago
chegou à Inglaterra, gostou muito do sistema episcopal porque ele mesmo era
"cabeça", e assim podia apontar bispos obedientes. Queria introduzir
o mesmo sistema na Escócia, mas era impossível. Seu filho Carlos I, homem muito
mais teimoso e menos sábio, mandou que a liturgia anglicana fosse lida na
Igreja de S. Giles em Edimburgo, capital da Escócia. Nessa ocasião, uma mulher
lançou uma cadeira à cabeça do padre, e este foi obrigado a fugir da ira dos
escoceses, e nunca mais voltou. O rei então invadiu a Escócia com um exército,
mas encontrando um exército mais poderoso na fronteira, ficou numa posição
muito crítica para discutir o assunto, e voltou desistindo do intento. Os
ingleses ficaram muito satisfeitos também porque odiavam o arcebispo Laud, que
aconselhou ao rei tal coisa. Finalmente este prelado foi executado.
Querendo Carlos I atentar
contra a liberdade do povo inglês, rebentou a guerra civil, que terminou com a
execução do rei. Infelizmente, os escoceses convidaram seu filho, que
professou ser presbiteriano, para governar a Escócia. Um convite de que mais
tarde o povo teve muita razão para se arrepender. O Protetor da Inglaterra,
Oliver Crom-well, invadiu a Escócia e venceu seus exércitos obrigando o
príncipe Carlos a fugir. Oliver Cromwell mandou seus generais para governar a
Escócia, e foram dez anos de governo justo, de paz e liberdade. Eis o
testemunho dum historiador desse tempo (1650-1660): "Eu creio
verdadeiramente que houve mais almas convertidas a Cristo durante este
período, do que durante qualquer outro tempo desde a Reforma, mesmo sendo um
período três vezes maior. Toda paróquia tinha um ministro, toda aldeia uma escola,
e quase toda família possuía uma Bíblia, e na maior parte do país, todas as
crianças de idade escolar sabiam ler". Este testemunho foi escrito um
século depois da Reforma. Não havia no mundo país mais adiantado no século XVII
nem no século XVIII.
Mas a liberdade religiosa teve
pouca duração. No ano de 1660 o príncipe Carlos voltou, e foi declarado rei com
o nome de Carlos II (de "duas faces" dizem os escoceses). Carlos
mostrou sua ingratidão aos escoceses que tinham vertido seu sangue para
mantê-lo no trono. Fez leis severas contra os presbiterianos. Quase todos os
pastores foram enxotados e homens ignorantes e, às vezes, sem caráter,
preencheram seus lugares. A lei exigia que todos os membros assistissem nos
domingos aos serviços na igreja, e os novos padres mandavam a lista dos
ausentes para as autoridades. A pena de ausência era prisão ou multa. Os escoceses
então reuniram-se secretamente nas montanhas e bosques e ali os velhos pastores
pregavam, e celebravam também a Santa Ceia. Tais reuniões, chamadas
"Conventículos", eram contra a lei, e soldados foram enviados para
dispersar o povo que os assistia. Esses soldados prendiam e por vezes matavam
aqueles que apanhavam. Ás cadeias ficaram cheias, e os pregadores, quando
apanhados, eram enforcados ou degolados.
Durante um destes conventículos
os soldados atacaram a multidão, e uns homens armados defenderam-se. Este
,sucesso da parte dos "Covernanters" (como se chamava os escoceses
presbiterianos) não deu bom resultado, porque os atacantes depois foram
vencidos, e centenas foram fuzilados ou enforcados. O governador mais cruel
desses tempos foi o Duque de York, irmão do rei, e depois Tiago II. Era
católico, e gostava de inventar e presenciar torturas bárbaras. Quando foi
feito rei, a opressão piorou, mas felizmente durou somente quatro anos, pois
Tiago foi obrigado a fugir para a França, e o rei Guilherme de Orange (holandês)
subiu ao trono, e sempre depois disso a Escócia tem gozado plena liberdade
religiosa. Muitos dos que haviam fugido para a Holanda voltaram à pátria.
Durante o século XVTCI a vida
social e religiosa não desceu tanto na Escócia como na Inglaterra. João
Howard, o célebre filantropista e reformador das prisões, escrevendo no ano
1779, disse: "Há poucos presos na Escócia. Em parte é devido aos costumes
alcançados pelo cuidado que os pais e ministros têm em instruir a nova geração.
No Sul da Escócia é raro encontrar-se uma pessoa que não saiba ler e escrever.
Era considerado um escândalo se uma pessoa não possuíse a Bíblia, que era sempre
lida nas escolas paroquiais".
A pregação de Whitefield foi
muito abençoada neste século. João Wesley também visitou a Escócia diversas
vezes e ficou admirado com a atenção do povo à sua pregação, e o decoro
observado durante as reuniões. Wesley não teve, porém, o bom êxito de
Whitefield. Talvez fosse isso devido ao fato de que este pregador era mais
chegado à doutrina calvinista do que aquele, porque os Wesleianos eram mais
discípulos de Armínio do que de Calvino. Foi esta diferença que causou a separação
entre os grandes pregadores.
Durante o século XVIQ o
espírito de um evangelismo agressivo quase desaparecera na Escócia. Ao fim
desse século dois irmãos, Roberto e Tiago Haldane, foram convertidos e
dedicaram suas vidas ao Evangelho, viajando e pregando. Os ministros
presbiterianos se opuseram a este movimento, e um ato foi decretado na
Assembléia em 1799, proibindo o uso dos púlpitos presbiterianos a leigos ou a
ministros de outras igrejas. Os irmãos Haldane eram proprietários com
bastantes recursos e continuavam seu trabalho fundando escolas dominicais. O
célebre Dr. Tomás Chalmers era um pregador eloqüente e poderoso, e animou os
evangélicos no país, e era líder da seção evangélica na igreja escocesa. Depois
o Dr. Chalmers chefiou o movimento separatista que formou a Igreja Livre da
Escócia. A revivificação de evangelismo na Escócia no princípio do século XLX
foi motivo da formação de diversas sociedades missionárias.
Em 1843 a Igreja Presbiteriana
foi dividida: muitos separaram-se da Igreja estabelecida formando a "Free
Kirk" (I-greja Livre) em protesto contra a intervenção do poder secular no
governo e conduta da Igreja. Os chefes do movimento separatista eram
evangélicos, mas seus colégios em pouco tempo escolheram professores com idéias
críticas das Escrituras. Um grupo dos ortodoxos dividiram-se da "Free
Kirk", formando um corpo separado.
Havia lugares remotos das
cidades grandes, no Norte da Escócia, onde o povo continuava meio-selvagem. A
re-vivificação de 1859 alcançou estes lugares. Os pescadores no Norte e no
Nordeste até as ilhas de Shetland eram homens embrutecidos. As aldeias à
beira-mar estavam cheias de tabernas onde era vendido o "Whisky"
(aguardente) e era onde os pescadores faziam seus negócios. As casas eram
choupanas pobres e sujas, o povo gastava o seu dinheiro nas tabernas e os
pescadores levavam aguardente nos barcos de pescar. A transformação feita no
povo nesse ano parece até incrível. As causas e os costumes mudaram depressa. O
efeito perdurou por muito tempo. Hoje os turistas vão de propósito visitar as
aldeias-modelos dos pescadores. Uma aldeia, por exemplo, que antes da
revivifica-ção possuía onze tabernas no meio da pobreza, agora não possui nem
tabernas, nem cinema, nem cadeia, e as casas são modelos de asseio. O vício é
desconhecido ali, e não há necessidade de polícia.
A Escócia tem produzido muitos
dos melhores missionários pioneiros, como Robert Moffat, David Livingstone,
Dr. Kalley, João Paton, James Chalmers e F. S. Arnot. A indústria, o comércio e
a agricultura têm trazido prosperidade à Escócia, mas não espiritualidade.
Dois grandes inimigos têm feito bastante estrago: o "Whisky" em
casa, e o modernismo na igreja. O domingo na Escócia era guardado como o dia do
Senhor. Hoje em dia todos os bons costumes então existentes estão mudando para
pior, e o domingo é mais e mais profanado. O número dos que assistem aos
serviços religiosos está diminuindo rapidamente, e o estado espiritual do povo
torna-se laodiceano.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine
o nosso entendimento
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