Hermenêutica - Teologia 29.26
3. Escola Crítica
A escola mais característica e
influente desta corrente de interpretação bíblica é a escola crítica, com o seu
método histórico-crítico. Uma das razões para o surgimento do método
histórico-crítico parece ter sido ‘‘a pretensão de tornar científicos os
estudos bíblicos, ou seja, faze-los compatíveis com o modelo científico e
acadêmico da época’’ (Nota 12) E o resultado desta nova postura para com as
Escrituras (crítica, ao invés de gramatical) foi o liberalismo teológico que tem
sido a postura de muitos teólogos desde o século passado.
Trata-se sem dúvida de uma
hermenêutica racionalista. Ao invés da revelação governar a razão, a razão é
que determina a revelação. A razão e o intelecto passaram a ser determinantes,
sendo rejeitado como erro, fábula ou mito tudo o que não puder ser explicado ou
harmonizado com a razão.
Os adeptos desta corrente rejeitam as
doutrinas reformadas das Escrituras, tais como inspiração, autoridade,
inerrância, e preservação; enfatizam a moralidade e descartam o sobrenatural.
Sob forte influência do evolucionismo de Darwin e da dialética de Hegel, as
Escrituras deixaram de ser vistas como a Palavra de Deus inspirada na qual ele
se revela ao homem, passando a ser considerada ‘‘como um registro do desenvolvimento
evolucionista da consciência religiosa de Israel (e mais tarde da Igreja)’’.
(Nota 13).
O conceito liberal de inspiração das
Escrituras só é objetivo no sentido de as Escrituras serem o objeto da
inspiração. No mais, é subjetivo: elas são o sujeito: elas é que inspiram, com
o ‘‘seu poder de inspirar experiências religiosas’’. (Nota 14)
Na prática, portanto, a principal
característica da escola crítica de interpretação é o pressuposto de que as
Escrituras devem ser estudadas do mesmo modo que as demais literaturas antigas,
pelo emprego das mesmas metodologias. Esta postura, crítica, com sua ênfase
apenas no caráter humano das Escrituras, resultou em uma série de metodologias
críticas de caráter histórico ou lingüístico que vêm sendo empregadas na
interpretação das Escrituras.
A crítica ou história da tradição é
uma dessas metodologias, cuja pretensão é ‘‘descobrir a história percorrida por
determinado trecho, no âmbito da tradição oral, ou seja, na fase anterior à sua
fixação literária mais antiga’’. (Nota 15). Isto é: estudar como os eventos
históricos e ensinos originais de Jesus teriam dado origem às diversas formas
de tradições orais até o seu registro escrito. Seu propósito é
‘‘destradicionalizar’’ (semelhante à desmitologização de Bultmann) os
Evangelhos, em busca do ‘‘fato’’ ou ensino ‘‘original’’. (Nota 16)
A crítica da forma é outra
metodologia crítica. Sua pretensão é classificar os escritos do Novo Testamento
em gêneros literários e identificar as tradições que teriam dado origem às fontes
empregadas pelos autores do Novo Testamento. Segundo os teóricos da crítica da
forma, (nota 17), os evangelhos provém de tradições orais não cronológicas
existentes (chamadas de paradigmas, novelas, lendas, mitos e exortações).
Posteriormente essas tradições orais teriam sido organizadas em relatos
cronológicos escritos que foram empregados pelos evangelistas. Mas a teoria é
extremamente especulativa, visto que não explica como esses gêneros teriam
surgido e se desenvolvido. Além disso, não existe registro histórico dessas
supostas coleções não cronológicas.(Nota 18).
Outra metodologia desenvolvida pela
escola crítica de interpretação é a crítica das fontes. De acordo com esta
teoria há muito pouco nos evangelhos (especialmente nos sinópticos) originário
dos evangelistas. Eles teriam sido mais coletores e editores dos diversos
relatos (tradições escritas) existentes sobre a vida de Jesus do que
propriamente autores. A teoria se baseia nas palavras de Lucas no início do seu
evangelho (cf. Lc 1.1, 3), e na observação de que os evangelhos de Mateus e
Lucas normalmente concordam literalmente com o evangelho de Marcos (ambos ou
cada um isoladamente), enquanto que raramente concordam entre si, quando
discordam de Marcos. A conclusão mais comum a que se chegou é que Mateus e
Lucas foram copiados de Marcos (quando concordam com ele) e de outra suposta
fonte chamada "Q", quando concordam entre si, mas discordam de
Marcos.
Não há, contudo, concordância entre
os críticos da forma. As evidências internas
(baseadas em supostas inconsistências
cronológicas, estilísticas, teológicas e históricas) a favor dessa teoria são
bastante limitadas, subjetivas, ambíguas e contraditórias com as evidências
externas (afirmativas dos pais da igreja que apontam de modo unânime em direção
oposta). (Nota 19). Muitas outras possibilidades tornam qualquer conclusão
extremamente incerta. Marcos poderia ter usado Mateus e Lucas; os três
evangelistas podem ter usado as mesmas fontes; Jesus pode ter repetido ensinos
e parábolas com palavras diferentes em ocasiões diferentes, etc. A verdade é
que não se sabe com exatidão como os evangelistas escreveram seus evangelhos.
Parece evidente que pelo menos um,
Lucas, lançou mão de algumas fontes, mas conforme ele mesmo afirma, ele e suas
fontes basearam-se no que lhes transmitiram ‘‘testemunhas oculares’’ dos
acontecimentos (Lc 1.2). Entretanto, não há meios de saber concretamente que
fontes foram estas e até que ponto e como as usaram. Isso torna a crítica da
forma necessariamente especulativa. De concreto, mesmo, têm-se os Evangelhos,
como Palavra de Deus escrita por homens inspirados (movidos) pelo Espírito
Santo, fundamentados no que testemunharam e no testemunho de outras testemunhas
oculares, e, portanto, fidedignas.
Além dessas metodologias, há também a
crítica da redação, que se propõe a estudar como os evangelistas teriam usado
(editado) as suas supostas fontes na composição dos evangelhos; isto é, que
mudanças peculiares (ou contribuições) teriam sido introduzidas pelos
evangelistas às fontes que usaram, e com que propósito (especialmente
teológico). (Nota 20) Mas, a que conclusões seguras se podem chegar com a
crítica da redação, se nem mesmo há certeza alguma com relação ao uso das
fontes?
Por fim, pode ser mencionado o
criticismo histórico. Sua pretensão é avaliar a historicidade das narrativas
bíblicas, ou, como escreve Marshall, ‘‘...testar a precisão do que se propõe
ser uma narrativa histórica.’’ (Nota 21) Mas este propósito não é somente
pretensioso (inconsistente do ponto de vista bíblico); é também tendencioso, na
medida em que explora as aparentes contradições internas (especialmente entre
as passagens paralelas dos evangelhos) e externas (com fontes seculares e
históricas); e encara os relatos de ocorrências sobrenaturais por uma
perspectiva altamente especulativa. Assim, o criticismo histórico não vê os
textos paralelos como complementares, mas como contraditórios; atribui às
fontes seculares autoridade superior à das Escrituras; rejeita as intervenções
sobrenaturais; e considera muitas narrativas históricas como invenção da
igreja, novelas ou mitos.
Os resultados de todas estas
metodologias críticas são inseguros, questionáveis e dúbios, e sua aplicação
prática extremamente limitada (se possível). São hipóteses construídas sobre
especulações infrutíferas que não contribuem em praticamente nada para a
compreensão do texto do Novo Testamento, a não ser para lançar dúvidas sobre a
sua inspiração, autoridade e inerrância. (Nota 22).
Não obstante, parece que a corrente
humanista de interpretação das Escrituras tem começado a prevalecer em um
número considerável de seminários teológicos no nosso país. A ênfase
hermenêutica destes seminários está no método, na técnica, nos aspectos
literários ou históricos das Escrituras, em detrimento do seu caráter divino,
espiritual e sobrenatural. A metodologia predominante tem sido o método
histórico-crítico. E, em virtude da impossibilidade de conciliar este método
com as doutrinas bíblicas da inspiração, autoridade, suficiência, inerrância e
preservação das Escrituras, muitos destes seminários têm se afastado cada vez
mais da verdadeira fides reformata
(fé reformada).
Como os resultados das metodologias
críticas empregadas pelo método histórico-crítico são quase sempre
infrutíferos, e sua aplicação prática extremamente limitada, não é incomum que
o produto final de muitos dos nossos seminários seja formandos despreparados
para o ofício de ministros da Palavra. Nesta condição, não é de estranhar que,
como observou Lopes, ‘‘...os púlpitos de bom número das igrejas evangélicas
destilam uma espécie de sermão onde pouca ou nenhuma atenção se dá ao sentido
original do texto bíblico’’. (Nota 23). Destilam também, acrescento, teologias
imprecisas e inconsistentes, que pouco edificam os membros de suas
congregações.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine
o nosso entendimento
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