História Do Cristianismo -
Teologia 32.274
MARTÍRIO DE CRANMER
Em seguida chegou a vez de
Cranmer, mas não com a mesma glória dos outros mártires. Embora cristão, e por
fim mártir também, foi tímido e inconstante quase até a morte; e num momento de
grande tentação, faltou-lhe a coragem, e caiu. Era já velho e pela ordem da
natureza, poucos anos mais poderia viver, mas ainda parecia agarrado à vida.
Foi depois do seu interrogatório e da sentença lavrada que começou a vacilar;
e nesta situação, persuadido pelas lisonjas dos seus inimigos e os receios da
tortura nas chamas, estendeu a mão para assinar uma retratação. "Esta
retratação", diz Foxe, "ainda bem não estava escrita, e já os
doutores e prelados a levavam a imprimir e a espalhavam por toda a parte. A
rainha que tinha agora tido ocasião de vingar o seu antigo pesar, recebeu esta
retratação com muito prazer; mas não perdeu a idéia de mandar matar o seu
autor".
Pode-se calcular qual era a
situação do pobre arcebispo nestas condições. A sua vergonha e completa negação
da fé destruiu a sua paz de espírito, e ao mesmo tempo não diminuiu a
severidade da sua sentença, e na verdade sentia-se muito desgraçado. Mas
Cranmer ainda era o objeto do amor de Cristo, e havia de ser restaurado pela
graça divina. Era uma ovelha do Senhor, e apesar de ter andado errante, ainda
era um membro do rebanho, e amado com um amor que nem os seus erros podiam
fazer diminuir. Pouco depois começou a sentir no seu coração os benéficos
sinais do Espírito, que o levaram a confessar a Deus a sua falta; e assim lhe
voltou a paz de espírito, e uma força que não era a sua própria tomou posse da
sua alma. O seu desejo de viver cessou, e começou a esperar com resignação e
alegria pura, o momento em que
Deus o chamasse para si.
No dia 21 de março de 1556, foi
levado da prisão para a igreja de Sta. Maria, em Oxford, para ali estar
presente ao seu sermão fúnebre que devia ser pregado pelo Dr. Cole, um zeloso
papista. A igreja estava apinhada de gente, visto esperar-se que o arcebispo
fosse chamado para ler a sua retratação, e o momento era de verdadeiro
interesse. Os papistas estavam ali para presenciarem o triunfo da sua religião,
e os protestantes para se certificarem com tristeza da verdade das notícias
desastrosas a respeito do arcebispo. Enquanto o Dr. Cole prosseguiu o seu
sermão notou-se que Cranmer por várias vezes derramava lágrimas, e uma ou duas
vezes voltou-se e ergueu as mãos ao Céu como se estivesse orando. Muitos dos
assistentes choravam também e exprimiam a maior compaixão e piedade.
O sermão terminou e a
congregação dispunha-se a partir, quando Dr. Cole pediu a todos os presentes
que esperassem um pouco. "Irmãos", disse ele, "para que ninguém
duvide da sincera conversão e do arrependimento deste homem, ele irá falar
perante vós; peço, portanto, ao Mestre Cranmer, que cumpra agora o que prometeu
há pouco, isto é, que exprima publicamente a verdadeira e indubitável profissão
da sua fé para que todos fiquem sabendo que ele é na verdade um católico".
"Assim farei, e com a
maior vontade," disse o arcebispo, descobrindo a sua cabeça para falar; e
em seguida, depois de um momento de silêncio, levantou-se e começou a falar ao
povo. A primeira parte do seu discurso, que foi interrompido pela mais sincera
oração, foi uma solene exposição da vaidade da vida humana e do engano das
riquezas; a confissão ficava para o fim. A proporção que o discurso
prosseguia, tanto os papistas como os protestantes ficavam cada vez mais
sossegados e atentos, sem fazerem uma única interrupção. Por fim chegou-se à
confissão, e nesse momento um intenso sentimento de excitação percorreu aquela
multidão ali reunida. "E agora", disse Cranmer, "chego ao
importante ponto que tanto perturba a minha consciência mais do que tudo
quanto eu jamais disse ou fiz em toda a minha vida; vem a ser a publicação de
um escrito contrário à verdade, e que eu agora aqui renego como coisas escritas
pela minha mão contrárias à verdade que eu tinha e tenho no coração. Foram
escritas por medo da morte e para salvar a minha vida se assim pudesse. São
mentirosos todos os papéis que eu tenho escrito e assinado com a minha mão
depois da minha degradação; papéis em que eu escrevi muitas coisas falsas. E
visto que a minha mão ofendeu a Deus, pois escreveu coisas contrárias ao meu
coração, esta minha mão será a primeira a ser castigada. Quanto ao papa,
nego-o, como inimigo de Cristo que é, pois é o Anticristo; nego-o com todas as
suas falsas doutrinas. Quanto ao sacramento, eu creio conforme ensinei no I meu
livro contra o bispo de Winchester; livro esse que ensina uma doutrina tão
verdadeira a respeito do sacramento que ele há de conservar-se no último dia
perante o julgamento de Deus, quando a doutrina papista tiver vergonha de se
manifestar".
Não se pode descrever a cena de
confusão que se seguiu a este discurso. Os protestantes choravam lágrimas de reconhecimento
e de alegria e os papistas raivosos rangiam os dentes. Quanto ao Dr. Cole,
tinha já ouvido bastante de confissão e quando o arcebispo começava a
desenvolver as suas observações sobre o papismo e o sacramento, ele exclamou:
"Façam calar esse herege e levem-no daqui!"
A graça triunfara e a derrota
dos católicos fora completa.
Ao ser levado ao lugar do seu
suplício, Cranmer despojou-se do seu vestido externo, e deixou-se amarrar ao
poste com uma cadeia de ferro. Acendeu-se em seguida a fogueira, e quando o
fogo chegou à roda dele, estendeu a sua mão direita sobre as chamas (a mão que
assinara a retratação) e viram-no dizer repetidas vezes, "Esta indigna mão
direita!... esta indigna mão direita!..." Em seguida repetiu diversas
vezes o grito de Estêvão: "Senhor Jesus, recebe o meu espírito!" e
assim expirou.
Muitos, algumas centenas até
foram sacrificados no altar da sua fé na Inglaterra no reinado e sob as ordens
de Maria, incluindo eclesiásticos, nobres, negociantes, lavradores,
trabalhadores, criados, mulheres e até crianças. Há a acrescentar a estes
muitos outros que sofreram doutras maneiras, pela tortura e pela prisão, tudo
com o consentimento da perversa rainha.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine
o nosso entendimento
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